terça-feira, 20 de fevereiro de 2024


Resenha 

  Capítulo 8: “Perspectivas alternativas: Feminismo e Pós-colonialismo”, de João Pontes Nogueira e Nizar Messari.

                                                                                                                    Gabrielly Couto Pereira

        No início do texto, os autores afirmam que a contribuição feminista foi pouco reconhecida nas Relações Internacionais, todavia, afirmam que a disciplina não tinha mais como não reconhecer a relevância da categoria de gênero na política internacional, tendo em vista que em 1990, o estupro de mulheres foi utilizado em algumas guerras étnicas, como uma arma para a limpeza étnica. Portanto, as mulheres foram alvo da limpeza étnica por serem o que são, e não por estarem em um grupo étnico diferente. Outro fato, foi o debate que o presidente Clinton realizou sobre a participação dos homossexuais nas forças armadas dos Estados Unidos. Além disso, afirmaram que as Relações Internacionais diziam, que seus estudos eram neutros e objetivos, e por isso, não havia espaço para o debate de gênero.

           Diante disso, afirmam que para estudar o feminismo nas Relações Internacionais, é importante saber que há diferenças entre as feministas e que elas são diversas, como exemplo temos o feminismo liberal, socialista, marxista, pós-moderno e feminismo crítico. Ademais, Ann Tickner lançou uma resposta indireta a Keohane, que colocava todas as feministas juntas e com os autores da teoria crítica, pós-modernos e pós-estruturalistas, pois para ele, eles possuíam argumentos parecidos. Tickner diz que “as teorias tradicionais sequer conseguem entender o tipo de desafio que o feminismo lhes lança”. Dessa forma, para Tickner, as teorias tradicionais não têm instrumentos analíticos, tampouco teóricos que lidem com a questão de gênero, como as feministas o fazem.

          Nesse viés, os autores afirmaram que o movimento feminista passou por duas etapas, a primeira geração de feministas, que lutaram pelo sufrágio universal e pela inclusão das mulheres no espaço político; e a segunda geração de feministas, em 1970, que tinham sua agenda voltada para a inclusão social e a cidadania. É importante dizer que, essas gerações estavam fundamentadas no Ocidente, por conta disso, suas agendas eram um reflexo do movimento feminista ocidental. Contudo, isso não quer dizer que as mulheres de fora do Ocidente não defendiam as mesmas pautas, ou que não havia movimento feminista fora do Ocidente, mas, que o feminismo era preponderantemente formado por uma agenda ocidental. Em relação à terceira geração, Nogueira e Messari disseram que ela abarcou a disciplina de Relações Internacionais e também, foi menos centrada no Ocidente e mais inclusiva.

          Sobre o ponto de vista feminista, afirmaram que ela buscou incluir as questões de gênero em questões de poder nas Relações Internacionais e também, apresenta uma forma alternativa de realismo. Além do feminismo pós-moderno questionar o conceito de identidade, partindo do entendimento de que o gênero é raramente uma categoria óbvia, definida e separada das questões políticas e culturais, ou seja, as teorias feministas abarcavam as contradições da definição de identidade e de gênero na política internacional. Vale salientar que, uma das principais diferenças entre eles, é que, um feminismo sustenta que as mulheres podem produzir políticas diferentes e por isso, podem providenciar um soberano diferente, mas o feminismo pós-moderno, não concorda com isso.

             Assim, com base no pensamento feminista, a identidade de gênero desempenha uma função determinante no pensamento miliar e na ideologia de uma sociedade, por isso, a inclusão das questões de gênero e as mulheres nas forças armadas, tem a capacidade de mudar os resultados políticos, que são dominados por um único gênero. Além disso, uma consequência poderia ser a substituição da dominação masculina por uma feminina, e uma alternativa para lidar com as questões de segurança. Em contrapartida, as feministas pós-modernas afirmam que isso só estabeleceria um novo soberano, para elas, tanto a visão feminista quanto as posições dominantes das Relações Internacionais excluem outro sexo, ao invés de incluí-lo, e isso reduz o alcance da crítica feminista.

                 Vale ressaltar que, a terceira forma de feminismo, teve influência da teoria crítica, ao abarcar as vantagens analíticas feministas e do feminismo pós-moderno, ao formular críticas teóricas e alternativas políticas. Além de outras feministas, estabelecerem vínculos com o construtivismo, visto que o gênero é entendido como não natural, não predeterminado, e sim socialmente construído. Por último, a diversidade de feminismos desafiou as teorias de Relações Internacionais sobre a sua “natureza neutra” em relação ao gênero, ao mostrar que os papéis e o conhecimento são marcados pelas questões de gênero. Ademais, afirmaram que, “a disciplina é mais cega em relação ao gênero, que neutra em relação a ele”, por isso, no fim do texto, os autores deixaram algumas perguntas sobre a construção de gênero: “o que significa ser masculino ou feminino? Ser masculino exclui os homens homossexuais? E ser feminina, exclui quem?”

 

Fichamento : Livro, “Potência, limites e seduções do poder”, Marco Aurélio Nogueira

 Gabrielly Couto Pereira.

        Para o autor o poder pode ser utilizado tanto para conservar quanto para revolucionar, tanto para promover mudanças quanto para preservar o status quo. O poder está em toda parte, tem muitas dimensões e facetas. Temos poder quando conquistamos e influenciamos algo ou alguém a cumprir nossas ordens, ou ainda, quando podemos nos recusar a cumprir certa ordem. 

       Nas relações humanas sempre há alguém que domina ou exerce poder, como os detentores dos meios de produção, dominam os consumidores. Empresários e comerciantes valem-se da propaganda para induzir na compra de determinados bens. Aqueles que possuem conhecimento ou as controlam podem subjugar alguém, controlar informações. 

           O autor afirma que os estados são constrangidos pelo capital financeiro, agências internacionais, demandas sociais, globalização, com isso os governos privatizam o estado, transferem funções para conterem as insatisfações.

        Marco Aurélio fala sobre o mundo virtual das invenções tecnológicas e redes sociais que se tornaram o que Manuel Castells chama de “cultura da virtualidade real, onde o faz de conta vai se tornando realidade”. 

      O autor fala como a revolta feminina mudou a sociedade, com ela houve uma revolução sexual, o patriarcado, a crença de que o homem deveria trabalhar e prover, mudou, as mulheres começaram a trabalhar, estudar e a contestar a sociedade, com isso houve a invenção de anticoncepcionais, a contestação da heterogeneidade, os papéis dentro da família mudou, as preferências sexuais, a duração do casamento…

 



Uma visão acerca do Elitismo Democrático: comparação com outras linhas de pensamento


Gabrielly Couto Pereira 

Jeniffer Guimarães Lima 

Luiz Henrique Vasconcelos Fonseca



          O Elitismo Democrático e a Teoria das Elites aparece no final do século XIX quando o cientista político italiano Gaetano Mosca (1858-1941) notou que existia uma elite dirigente governante que se opunha a um grupo governado estabelecendo essa observação no livro "Elementi di Scienza Política". O autor também percebeu que os poderes ideológico, político e econômico eram importantes, porém a força política era mais relevante. De acordo com a teoria, a sociedade é composta por dois grupos muito distintos: os dirigentes – que são a menor parcela, monopolizam o poder e impõem seus ideais legalmente ou arbitrária e violentamente sobre a sociedade – e os dirigidos – que representam a maioria populacional, são desarticulados e consequentemente menos organizados. Mosca, também, esteve preocupado em explicar que a classe dirigente estava no poder pelo fato de ser mais organizada, haja vista que por afinidade de interesses, constituíam um grupo mais homogêneo e solidário. 

         Nesse contexto, é importante ressaltar que outros pensadores começaram a refletir sobre o assunto e desenvolver conceitos relacionados que possibilitaram a expansão da Ciência Política dentro das Ciências Sociais. Assim, Vilfredo Pareto (1848-1923) – sociólogo e economista italiano – preocupou-se com a interação entre as classes elitistas dando destaque às classes política e econômica consideradas superiores. Outro importante aspecto ressaltado é o processo de decadência das elites no qual estas lutam entre si para disputar a sucessão na prática de dominação política. Pareto acreditava, ainda, que as desigualdades sociais faziam parte da "ordem natural" e que por isso promoviam o surgimento das elites. 

          Além disso, o sociólogo alemão Robert Michels (1876-1936), a partir da observação de partidos políticos de massa e da dinâmica da política democrática, concluiu que existem fortes tendências ao elitismo mesmo dentro das organizações partidárias que funcionam num sistema político democrático. A essa tendência deu-se o nome de Lei de Ferro das Oligarquias cuja aplicação pode ser dada também a grandes organizações sociais, sindicatos e corporações.

         Por outro lado, temos o pluralismo que suas ideias de sistemas políticos, sociais e culturais podem ser entendidas como o resultado de uma multiplicidade de fatores ou composto por uma pluralidade de grupos autônomos, porém interdependentes. Diferente da corrente elitista, que tem uma ideia mais unificadora, tendo o seu centro voltado para a elite, o pluralismo foca nas instituições políticas, em seu funcionamento e idealizam a sociedade como algo plural. Além disso, defendem a formulação de vários setores de poder, promovendo assim, uma sociedade mais competitiva e com uma maior participação. Dessa forma, proporciona um peso maior do que a escola elitista. Tendo em vista que com a Poliarquia, a sociedade se torna plural, pois os partidos competem entre si, gerando assim, a competição eleitoral.

             Acredita-se que o Elitismo Democrático é uma teoria em que o poder político está nas mãos apenas de uma minoria, a elite, ou seja, uma ciência política que se baseia em uma minoria detentora do poder monetário, político, intelectual ou econômico. Em contraposição, o marxismo via a política como algo que deveria ser revolucionado pelo movimento trabalhista, ou seja, a classe operária deveria revolucionar a política, ocupando esse espaço. Visto que eles são contra a dominação e exploração da classe proletária pelos burgueses, que nesse contexto são vistos como a “elite”, descrita pela corrente elitista. Em síntese, a contradição reside na defesa do marxismo de que o poder político deveria estar nas mãos do proletariado e não nas mãos de uma elite, a burguesia, bem como uma sociedade sem classes, onde os bens e propriedades são de todos. 

            Segundo o escritor Dahl, “si las minorías siempre gobiernan, no puede haber democracia. En la práctica, entonces, lo que llamamos democracia no es sino una fachada para la dominación de una minoría”. Tendo em vista que no poder político apenas um grupo governa, com isso, não há integração, participação ou competitividade eleitoral. Além disso, nos revela que a democracia não é como os pluralistas a defendiam, uma sociedade plural e participativa, e sim uma Lei de Ferro das Oligarquias, visto que é uma democracia disfarçada e quem sempre ganha são aqueles que possuem mais privilégios e a minoria como sempre, em sua miséria com o véu da ignorância em seus olhos como observado por John Rawls.

             

 

 

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

  

     

POLÍTICA, TEORIA FEMINISTA E GÊNERO

SIMONE DE BEAUVOIR, ANGELA DAVIS E CAROLE PATEMAN



Ana Luiza Alves De Almeida Mendes

Luana De Morais Mello Pollyana Alves De Matos


O retrospecto da participação feminina no âmbito político pode ser observado a partir de uma postura de luta e resistência. Figuras importantes foram cruciais e necessárias para que fosse possível que a luta pelos direitos das mulheres evoluíssem e se disseminassem. Dentre essas personalidades podemos citar como precursora do movimento feminista, no seculo XVIII, Mary Wollstonecraft, além de pensadoras da modernidade que se destacam como Simone de Beauvoir, Carole Pateman e Angela Davis. É necessário entender que cada uma dessas autoras abordam o feminismo e a realidade da mulher na sociedade de um ponto de vista distinto.

Uma das primeiras personalidades a dar voz às questões feministas foi Mary Wollstonecraft, que em sua obra “A Reivindicação dos Direitos da Mulher” de 1792, destacou e questionou, principalmente, as obras de Rousseau que limitavam o papel da mulher ao âmbito doméstico. Para Wollstonecraft não fazia sentido o homem ser o juiz sendo que tanto homem quanto a mulher compartilham da razão.

Pouco mais de um século e meio depois, em 1949, na ascensão da chamada “segunda onda do feminismo”, a francesa Simone de Beauvoir, através da obra “O Segundo Sexo”, reflete acerca da construção social típica do patriarcado que mantém a mulher subjugada a um homem e no papel de um ser incompleto e que não se define por si só.

É perceptível as similaridades das reivindicações de ambas as autoras, Wollstonecraft no século XVIII e Beauvoir no século XX. Entretanto, essas reivindicações sofreram limitações. Esse feminismo não abrangia, por exemplo, as mulheres negras que desde então já trabalhavam para além do espaço doméstico, mas continuavam subjugadas e sofrendo a violência de gênero que tanto condenavam.

Nesse contexto, a americana Angela Davis é uma importante pensadora, professora e filósofa. Davis tem importancia significativa no movimento negro (panteras negras) e é integrante do partido comunista dos Estados Unidos da América. Destaque expressivo na década de 1970, seu pensamento filosófico, principalmente relacionado à população negra é de extrema importância uma vez que seus estudos são focados no feminismo. “Mulheres, raça

e classe” pode ser considerado um manual para se compreender a importância e a relevância da mulher da raça e da classe substancialmente relacionado a entender os conceitos e o fato de que as pessoas são oprimidas por diversos motivos. Nessa obra, a abordagem de Davis retrata a existência de uma opressão de gênero que se estabelece sobre as mulheres, a população feminina sendo considerada inferior. A obra apresenta também o pensamento da impossibilidade de se existir uma opressão maior que a outra, isso porque as opressões nas minorias atuam em conjunto. Nesse sentido, é possível perceber um paralelo do assunto com a situação e a realidade brasileira, como a pobreza está atrelada à questão de raça, focando na população negra.

A ascensão do capitalismo abriu o mundo do mercado de trabalho para as mulheres brancas, no entanto, as mulheres negras desempenhavam subempregos, isto é, trabalhos análogos à escravidão e com uma baixa remuneração. Além do mais, Angela discorre também sobre como as mulheres negras executam papéis importantes de resistência na história. A miscigenação na maioria das vezes é romantizada no Brasil, porém deve destacar que é fruto de estupros com população negra e indígena.

Já a autora Carole Pateman critica as limitações do liberalismo e em sua obra ela denuncia as formas naturalizadas de submissão presentes na sociedade, que já existiam antes do contrato de Jean-Jacques Rousseau, foram ainda mais entrelaçadas na sociedade após suas ideias e desde então vem tentando ser desconstruída por exemplo pela filósofa Mary Wollstonecraft.

Em sua obra “O Contrato Sexual” Pateman retrata os postos de vista dos contratualistas sobre as mulheres na sociedade, ela cita que para Locke, Rousseau e Kant as mulheres são ausentes do contrato em razão da sua “inferioridade natural” e para Hobbes a mulher é naturalmente destinada a ser frágil por conta de gerar e cuidar dos filhos.

Em suma, a realidade da mulher é temática de extrema importância e os pensamentos feministas que o cercam foram evoluindo, juntamente com suas pensadoras, no decorrer dos séculos, se adaptando às diferentes realidades e desempenhando um papel crucial para a análise dos direitos da mulher.

No QR code ao lado você pode encontrar mais informações sobre as autoras além de indicações de seus livros e também de obras cinematográficas que retratam as lutas das mulheres em busca de seus direitos.

                               



Referências:


Beauvoir, Simone. O Segundo Sexo. Tradução de Sérgio Milliet. 4ª edição. São Paulo: Editora Difusão Européia do Livro, 1970;


Davis, Angela. Mulheres, Raça e Classe. Tradução de Heci Regina Candiani. 1ª edição. São Paulo: Editora Boitempo, 2016.


Pateman, Carole, O contrato sexual. Tradução de Marta Avancini. 2ª edição. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2020;


Wollstonecraft, Mary. Vindicación de los derechos de la mujer. Editora Cátedra, 2000;


 

    

JEAN-JACQUES ROUSSEAU E O CONTRATO SOCIAL: A VISÃO SOBRE AS MULHERES NA SOCIEDADE




ANA LUIZA ALVES DE ALMEIDA MENDES




Jean-Jacques Rousseau:


 Rousseau nasceu em Genebra dia 28 de junho de 1712 e faleceu em Ermenonville, 2 de julho de 1778, importante filósofo e teórico político, compositor e escritor. Um dos principais filósofos iluministas, criticavam o absolutismo mas também criticavam a burguesia. 

    

 Rousseau é um dos nomes mais importantes de várias teorias como Teoria da Vontade Geral, teoria do amor e ódio entre outras, a que irá ser tratada neste trabalho é a teoria do contrato social, em especial como Jean-Jacques Rousseau enxergava o papel das mulheres dentro da sociedade.



Contrato Social de Jean-Jacques Rousseau.



Rousseau é um dos principais filósofos da ideia de "contrato social” que seria a constituição de uma sociedade civil, que deveria gerir liberdade a todos, e contrastava com a teoria de John Locke que acreditava que as leis que garantiriam os direitos individuais. Rousseau era defensor de que devia-se valer a lei da Vontade Geral que seria a constituição do Estado devendo ser respeitada a soberania do povo, esse era um dos motivos para Rousseau criticar a propriedade privada, ele defendia que deveria se acabar com as desigualdades sociais.

Porém todos esses pensamentos eram voltados para os "homens” pois no livro V de sua obra Emílio ou Da Educação Rousseau aborda que “homens e mulheres são iguais em tudo, porém se diferenciando em tudo o que depende do sexo.” A partir dessa afirmação do autor podemos destacar como ele acreditava ser o possível papel das mulheres dentro da sociedade civil que ele propôs.



As mulheres no contrato social de John Locke e Thomas Hobbes.



Antes de entrarmos no ponto de vista de Jean-Jacques Rousseau sobre qual papel das mulheres dentro do contrato social é importante destacar como os outros dois contratualistas do século XVII, John Locke e Thomas Hobbes, tratavam o assunto em suas obras.


Para Thomas Hobbes deveria haver o contrato social porém ele deveria resultar no absolutismo. Para John Locke essa passagem do estado de natureza para o contrato social tendo como principal caraterística o Estado garantindo os direitos individuais, destacando o direito à vida, liberdade e direito à propriedade privada.

A posição de John Locke acerca das mulheres no contrato social é de uma piora já que para ele, através de outro “contrato” sendo esse o contrato de casamento as mulheres abrem mão de seus direitos comparando esse ato a questão dos trabalhadores que alienam seus direitos através do contrato de trabalho. Mas é importante destacar como para locke todas essa posição de alienação das mulheres já vem de uma racionalidade inferior e inabilidade para participar ativamente da vida pública. (LOCKE, John. Dois tratados sobre o governo. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 454-455).

A abordagem de Thomas Hobbes sobre o papel das mulheres é em mais discreta em suas obras porém ainda sim resulta-se em uma abordagem patriarcal, para ele homens e mulheres então em igualdade no “Estado de Natureza”, a família é a base do contato social, que seria o estágio onde a mulher aceita a submissão ao homem. E dentre os três contratualistas o que se destaca com a visão mais patriarcal acerca do papel das mulheres é Jean-Jacques Rousseau, ele não só exclui-as da vida pública e econômica como lhes designa tarefas que limitam a vida doméstica usando como embasamento a questão da natureza que é o que será abordado no próximo tópico.



O Papel das Mulheres no Contrato Social de Jean-Jacques Rousseau.



Dentre os três contratualistas a pode se dizer que a visão mais patriarcal é a de Jean-Jacques Rousseau, enquanto John Locke e Thomas Hobbes abordam muito pouco o papel das mulheres em suas obras, o que já poderia ser uma critica, Rousseau impõe quais tarefas são determinadas as mulheres.

Rousseau propunha que o processo de educação das mulheres deveria ser limitado, os professores ensinam-na, limitam-na, educam-na, explicam para ela para que sejam acostumadas cedo à restrição. (Rousseau, Jean Jacques. Émile. New York: Dutton, 1966, p. 321.) Pode-se observar como é construída a visão limitada que a mulher deveria ter sobre, não só a sua vida pública mas sendo educada para de certa forma limitar suas opiniões e vontades em outros âmbitos de sua vida.

Toda visão de Rousseau acerca das mulheres na vida pública, ou como parte do contrato social, se refere que o espaço público é separado do espaço privado a qual as mulheres são relegadas. Como podemos observar na citação abaixo:

“Quando uma mulher se queixa da injusta desigualdade que neste momento os homens impõem, se equivoca,pois essa desigualdade não é uma instituição humana, ou pelo menos não é obra do preconceito, mas da razão: aquele que a natureza encarregou é quem deve responder ao outro desse depósito de crianças” (Rousseau, Jean-Jacques, Emilio, ou Da educação.)




Mary Wollstonecraft



Os pensamentos de Rousseau e dos demais contratualistas foram criticados por Mary Wollstonecraft, autora da obra A Reivindicação dos Direitos da Mulher de 1792, que destacou e questionou, principalmente as obras de Rousseau sobre a delimitação do papel da mulher apenas ao âmbito doméstico. Para ela não fazia sentido o homem ser o juiz sendo que tanto homem quanto a mulher compartilham da razão. (Wollstonecraft, Mary, Vindicación de losderechos de lamujer, Ed. Cátedra, 2000.)

Wollstonecraft pode ser definida como a primeira responsável pela “inclusão” das mulheres na política, mas não apenas isso já que em sua obra ele reivindicava principalmente do direito da mulher sobre si mesma, e pretendia que os princípios liberais que regeram a Revolução Francesa abarcasse também as mulheres.

Uma de suas principais críticas a Rousseau era que ele definia o papel da mulher no espaço público e privado como desnecessário e Mary Wollstonecraft debatida que não poderia existir a exclusão das mulheres nem no âmbito público em que o papel delas era nulo e nem no espaço privado onde as mulheres eram majoritariamente oprimidas.

Podemos observar que os tópicos abordados por Mary Wollstonecraft se tornaram a base do feminismo e vem sendo debatido até os dias atuais, e como representante desse debate atualmente podemos destacar Carole Pateman, filósofa britânica que trabalha com ciências políticas e feminismo.



Carole Pateman



Carole Pateman critica as limitações do liberalismo e em sua obra ela denuncia as formas naturalizadas de submissão presentes na sociedade, que já existiam antes do contrato de Jean-Jacques Rousseau, foram ainda mais entrelaçadas na sociedade após suas ideias e desde então vem tentando ser desconstruída por exemplo pela filósofa Mary Wollstonecraft.

Em sua obra “O Contrato Sexual” Pateman retrata os postos de vista dos contratualistas sobre as mulheres na sociedade, ela cita que para Locke, Rousseau e Kant as mulheres são ausentes do contrato em razão da sua “inferioridade natural” e para Hobbes a mulher é naturalmente destinada a ser frágil por conta de gerar e cuidar dos filhos.



Conclusão



Após esse retrospecto é possível observar como as ideias patriarcais tanto de antes do contrato social, e que depois do contrato elas foram reforçadas são questão de luta para as mulheres até hoje. E não se trata apenas da participação igualitária no espaço público ou espaço privado e sim do direito das mulheres perante a vida política e também a seu próprio corpo.

Mary Wollstonecraft e Carole Pateman são alguns exemplos de mulheres que criticaram como tantas ideias que partiram de homens tentaram impor um tipo de vida as mulheres mas que a partir de críticas e resistência a essas ideias é possível assegurar direitos que sempre deveriam ser das mulheres, porém esses direitos são sustentados por linhas frágeis que devem ser sempre tópicos de debate para que não sejam perdidos no decorrer do tempo, já que ainda vivemos em uma sociedade majoritariamente regida por homens mesmo que as mulheres sejam maioria em números.

Portanto a história nos mostra que mesmo a base da teoria política moderna ser uma área onde os homens são maioria e na maior parte do tempo com teorias e ideias que ou excluem as mulheres ou as designa tarefas que ela não deveriam ser obrigadas a exercer, existem figuras femininas que criticam e debatem essas ideias.



REFERÊNCIAS:



(LOCKE, John. Dois tratados sobre o governo. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 454-455).


(Rousseau, Jean Jacques. Émile. New York: Dutton, 1966, p. 321.)


ROUSSEAU, J.J. Emílio ou Da Educação. Trad. Roberto Leal Ferreira. Martins Fontes. 2ª Ed. São Paulo. Martins Fontes. 1999.


(Wollstonecraft, Mary, Vindicación de losderechos de lamujer, Ed. Cátedra, 2000.)


(Pateman, Carol, El desorden de lasmujeres. Democracia, feminismo y teoría política, Bs.As., PrometeoLibros, 2018.)


D’ATRI, Andreai. MAIELLO, Matías. Das concepções teóricas e estratégias para lutar por uma sociedade não patriarcal.Ideias de Esquerda. Disponível em:

<https://esquerdadiario.com.br/ideiasdeesquerda/?p=808>. Acesso em:12 de julho de 2022.



BODART, Cristiano. Rousseau e as mulheres. Café com Sociologia. Disponível em:

<https://cafecomsociologia.com/visao-de-rousseau-sobre-as-mulheres/>. Acesso em: 12 de julho de 2022.



MIGUEL, Luis Felipe. CAROLE PATEMAN E A CRÍTICA FEMINISTA DO CONTRATO.Disponível em:<https://www.scielo.br/j/rbcsoc/a/Z8RkRcXTyxwPPMzwQCBKmrx/?format=pdf&la ng=pt>.


segunda-feira, 10 de julho de 2023

Um olhar antropológico sobre a arte

 Um olhar antropológico sobre a arte

Jaqueline dos Santos


Introdução


O trabalho apresentado vem da 3ª semana da África e suas Diásporas para toda comunidade negra da UNILA ou sua grande parte participou do evento. (Oficinas, seminários, discussões e apresentações artísticas) através desse evento descobri que um colega é artista plástico ( pinta quadros).




Biografia do artista/artesão /performer:

Fritznel Honneur


Nasceu no Haiti, na cidade de Petit-Goâve, departamento do oeste,  no dia 28 de julho de 1991. Filho de  Seveline Lebrun e Wilfrid Honneur, uma família camponesa. Cresceu na capital do país,  Porto-príncipe, onde realizou sua escolarização. Fritznel Honneur é artista plástico e estudante da Antropologia e Diversidade Cultural Latino-americana na UNILA. Trabalha com temáticas abstratas, retratos, surrealismo e sobretudo com muito interesse pelo movimento espiritismo. Também, Demonstra muito interesse pela geometria sagrada da episteme africana ancestral.  Apaixonado pelo RAP, poesia e pelos valores e as tradições afro-descendentes, os que guiam sua produção artística  e acadêmica.  É um dos pintores afro-caribenhos engajado nas lutas pela emancipação dos povos negros; da classe trabalhador na e da categoria social “camponesa” na América Latina e no Caribe. Vive no Brasil desde 2021. Fritznel é Dessalinista e Leninista: "Pa gen libète san byennèt/Não  existe liberdade sem bem-estar" é a palavra maestra de suas lutas.



 


Pintura de quadros artísticos



Este quadro se intitulou *Legba*. O conteúdo daquele é antes de tudo é o desenho de uma figura geométrica sagrada que se chama de *vèvè* aquilo é o vèvè de Legba. Quem é Legba? Ele é o espírito que guarda da porta, quem domina os caminhos. Ele, na tradição de vodu haitiano representa o príncipe primeiro é quem abre caminho para os outros espíritos. É o primeiro invocado nas cerimônias. Sua origem é da tradição Daomé (Benin).  Sua representante é um velho com chapéu preto e bengala (pau ou pata), que representam os símbolos da sabedoria do velho.







"Dantò" é o título do quadro da mulher com a criança no braço. É a representante de um dos spiritus mulher do vodu haitiano. Ela é símbolo de mãe cuidadora, guerreira. Daí, foi um dos espíritos presente na cerimônia de bois Caïman no dia 14 de agosto de 1791. Tem várias apelações como Manman Dantò, que significa mãe Dantò, rèn Dantò(rainha Dantò), mètrès Datò (madame Dantò).  Em relação ao sincretismo com o catolicismo, é a equivalente da virgem Maria com Jesus no braço.



Este quadro em preto e branco se intitulou. Mambo que significa mãe de Santo. É a chefa religiosa dentro das espiritualidades afro-descente, uma mãe de uma comunidade, de uma casa. É nesse sentido, uma forma de olhar o poder da mulher dentro das sociedades pretas afro-descente na América. Contrariamente, às religiões reveladas onde a mulher não tem esse espaço de poder.






Depois tem a espiral que parece Aranhas 🕷️ tá sem título.





Este último è "libète fanm" que significa liberdade da Femme. Isso é uma forma de dizer que a mulher tem que ser livre para fazer o que quiser, fora de nenhuma opressão das sociedades…




Processo criativo 


A inspiração do artista depende do que ele está pintando no momento. Segundo o mesmo, a espiral e desenhos abstratos vem do caótico ou caos, ele vem do nada para chegar em alguma coisa. Toda teoria dessa arte surgiu do caos ou da desordem do movimento da espiral,  a corrente se chama abstrato.  Ele gosta de trabalhar essas a partir do nada, no sentido de que tem um vazio aqui, e a partir daquilo sai sua inspiração. “Ordo  ad chao”, a ordem nasce da desordem.

Num ponto só,  e desse ponto emergir a forma mais central, e tudo é uma construção de um sujeito, e dessa forma surgem trabalho, é todo um processo. Começar do nada para chegar no trabalho final. Ele não pensa um trabalho antes é uma perspectiva que o mesmo trabalha do abstrato. 

Outra coisa é que o surrealismo ele cria, pode traçar, criar linhas e depois pintar, que é diferente do abstrato feito por ele. É a comunicação entre ele, seus pincéis, o quadro, sua terra e seu pensamento que sai do ponto zero até o fim.

Outra coisa que ele gosta de trabalhar vários objetos, que é uma forma de recuperar as coisas, para o artista é no mesmo sentido química que nada se entende, só se transforma. Ele gosta de utilizar o  que não tem utilidade para outras pessoas e construir uma utilidade para essa coisa, e essa coisa vai se tornar um objeto preciso dentro de uma arte. 

Que dá pra observar no quadro que tem as aranhas o seu nome, tem alguns objetos que  antes não tinha utilidade própria, só ele cria uma utilidade para esse objeto que se vira um elemento importante numa obra de arte, para o artista  a é recuperação do que foi perdido.


Considerações finais:


Poder compreender o processo de criação do artista é interessante, pois o mesmo tem processos bem peculiares um do caos, suas crenças e terra natal. Creio que de certa forma todos somos artistas de formas diferentes, uns através de desenhos, música, livros ou perspectivas de demonstrar o caos no mundo onde vivemos. Formas de mostrar o mundo onde vivemos e medianos ele.


Lorena Cabnal e Julieta Paredes: diálogos para um feminismo comunitário Maria Eugênia Ramos Ferreira O presente trabalho objetiva apresentar...