Resenha Crítica: “No Brasil, todo mundo é índio, exceto quem não é”
Este texto é uma entrevista baseada no livro “Povos Indígenas no Brasil 2001/2005” de Eduardo Viveiros de Castro, onde o mesmo participa da entrevista na ISA-SP (Instituto Socioambiental) para a equipe de edição.
“O Instituto Socioambiental (ISA) é uma organização não governamental brasileira fundada em 22 de abril de 1994 com o objetivo de defender bens e direitos sociais, coletivos e difusos, relativos ao meio ambiente, ao patrimônio cultural, aos direitos dos povos indígenas do Brasil.
O ISA desenvolve programas e campanhas em parceria com diversas outras organizações, e é uma instituição de referência na temática socioambiental no Brasil.
Entre seus fundadores, destacam-se importantes nomes da antropologia brasileira, como Carlos Alberto Ricardo, Eduardo Viveiros de Castro e Isabelle Vidal Giannini.(Wikipédia, 2023)”
O autor começa sua fala dizendo que [...] nossa entrevista vai ter de abundar em aspas; não apenas ou principalmente aspas de citação, mas sobretudo aspas de distanciamento. Isso porque essa discussão – quem é índio?, o que define o pertencimento? etc. – possui uma dimensão meio delirante ou alucinatória, como de resto toda discussão onde o ontológico e o jurídico entram em processo público de acasalamento. Costumam nascer monstros desse processo. Eles são pitorescos e relativamente inofensivos, desde que a gente não acredite demais neles. Em caso contrário, eles nos devoram. Donde as aspas agnósticas. O mesmo diz que essa discussão já tem 30 anos e que está posta aí desde o fim dos anos 70 no fim da ditadura.
Junto com a entrevista tem também o rascunho do livro de Castro, [...] “Índio” é qualquer membro de uma comunidade indígena, reconhecido por ela como tal. “Comunidade indígena” é toda comunidade fundada em relações de parentesco ou vizinhança entre seus membros, que mantém laços histórico-culturais com as organizações sociais indígenas pré - colombianas.
O texto discorre dizendo que o projeto de emancipação dos indígenas se dá no fim da ditadura, de quem era ou não índio, o mesmo ocorre no território Amazônico. [...] O propósito era emancipar, isto é, retirar da responsabilidade tutelar do Estado os índios que se teriam tornado não - índios, os índios que não eram mais índios, isto é, aqueles indivíduos indígenas que “já” não apresentassem “mais” os estigmas de indianidade estimados necessários para o reconhecimento de seu regime especial de cidadania(o respeito a esse regime, bem entendido, era e é outra coisa).
Podemos perceber que os políticos da época queriam apagar a existência dos povos indígenas reduzindo seus patrimônios, decidindo quem poderia usufruir das terras e recursos dos mesmos. Mas os antropólogos e algumas pessoas que lutavam pelos direitos humanos lutaram contra esse projeto.
"Foi em reação a esse projeto de desindianização jurídica que apareceram as Comissões Pró-Índio e as Anaís (Associação Nacional de Ação Indigenista); foi também nesse contexto que se formaram ou consolidaram organizações como o Centro de Trabalho Indigenista (CTI) e o PIB , o “Projeto Povos Indígenas no Brasil” do CEDI (o PIB, como todos sabem, está na origem do ISA)."(Castro, 2006).
A luta pelo direito dos povos indígenas vinha ou vem de pessoas que se importavam ou importam com a luta dos povos originários para manterem suas tradições, costumes e comunidades. [...] Nosso objetivo político e teórico, como antropólogos, era estabelecer definitivamente – não o conseguimos; mas acho que um dia vamos chegar lá – que índio não é uma questão de cocar de pena, urucum e arco e flecha, algo de aparente e evidente nesse sentido estereotipificante, mas sim uma questão de “estado de espírito”. Um modo de ser e não um modo de aparecer.
Castro continua explicando muitos aspectos importantes para compreendermos como se deu a luta no fim da ditadura e como está continua atual pois os mesmos abriram caminho para nos continuarmos a colocar nossos conhecimentos para ajudar os povos originários a manter o que é seu por direito. [...] Hoje a população urbana do país, que sempre teve vergonha da existência dos índios no Brasil, está em condições de começar a tratar com um pouco mais de respeito a si mesma, porque, como eu disse, aqui todo mundo é índio, exceto quem não é.
Referência:
CASTRO, Eduardo Viveiros. “No Brasil, todo mundo é índio, exceto quem não é”. Edição do Povos Indígenas no Brasil - ISA - SP, 2006.
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