segunda-feira, 17 de abril de 2023

Mulheres Negras Latino-americanas e Caribenhas

                Mulheres Negras Latino-americanas e Caribenhas


Jaqueline dos Santos 



Depois de  perceber  algumas  coisas  sobre  nós mulheres  negras, acredito  que  falar sobre  um dia específico  dedicado  a Mulheres  Negras Latino-Americanas  e  Caribenhas.

Me pareceu o mais  adequado falar  sobre  a luta de nossas  antecessoras, por  uma voz , um lugar  de  fala e posicionamento.


Nesta Autoetnografia  vou trazer dois artigos para dialogar sobre Mulheres Negras Latino-americanas e  Caribenhas, um que fala sobre   a comemoração  do  “dia  da  mulher  negra Latino-americana e Caribenha” e “11 lideranças negras que lutam por direitos na América Latina e Caribe”  

Pois é  algo que  no meio acadêmico  ou até   fora do  mesmo  é  pouco  visto  ou  até  mesmo  dialogado. Mas até  quando  podemos  permitir  não  ser falado  do nosso  povo  não apenas como escravos e sim um povo ou pessoas que estudam, trabalham e lutam por seus direitos de posicionamento na sociedade?



“A data no país foi regulamentada pela presidenta Dilma como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra - Preprodução Prefeitura de São Francisco do Conde


Assim nasce o dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, mas para nós não é apenas uma comemoração mas também uma luta,  continuidade por um lugar adequado para nós e os nossos.


“A data no país foi regulamentada a partir da Lei nº 12.987/2014, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff, como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza de Benguela foi uma líder quilombola que viveu durante o século 18. Com a morte do companheiro, Tereza se tornou a rainha do quilombo, e, sob sua liderança, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas, sobrevivendo até 1770, quando o quilombo foi destruído pelas forças de Luiz Pinto de Souza Coutinho e a população (79 negros e 30 índios), morta ou aprisionada.”


Imagina como essa comunidade se sentiu violada em todos os sentidos, vendo os seus entes queridos serem assassinados e muitos deles presos, nessa situação como podemos dizer que foi apenas efeitos colaterais de alguns atos. Mas sim um ato covarde com uma comunidade que resistia a escravidão e lutava pela sua liberdade e dos seus.


“Uma das maneiras de marcar a data, permitindo reflexões acerca das opressões sofridas pelas mulheres negras latino-americanas e caribenhas é dar visibilidade às histórias de vidas de outras mulheres que como Tereza, foram e são importantes para a nossa história. E que com trabalhos impecáveis e perseverança deixaram um legado que cabe a nós reverênciarmos e visibilizarmos como forma de homenagear. Entre elas, Lélia Gonzalez, Carolina Maria de Jesus, Elza Soares, Benedita da Silva, Ruth de Souza, Conceição Evaristo, Antonieta de Barros e Enedina Marques entre tantas outras”



Todas essas mulheres foram de extrema importância para a continuidade da luta de nós mulheres negras e os nossos, por tantos direitos conquistados. Mas até quando vamos ver  as leis ou direitos  apenas no papel e não exercidos em sua plena função. Mas quando muitas vozes se levantam de forma coerente podem ser  ouvidas. Mas para dar continuidade ao nosso assunto vamos conversar um pouco com o segundo artigo,  “11 lideranças negras que lutam por direitos na América Latina e Caribe” onde algumas mulheres são as mesmas da luta  pela visibilidade  da mulher negra onde se destacaram em vários setores da sociedade, inspirando nos a continuar a luta por uma sociedade mais igualitária.


“Conheça mulheres afro-latino-americanas e caribenhas que transformam suas comunidades, além de mulheres do passado que lutaram para construir uma sociedade mais justa e igualitária no presente”.


Nomes que para nós são  referências,  para os demais são  apenas  pessoas  comuns  ou até  mesmo  sem significados, não mudando seus pensamentos na luta que muitas dessas mulheres tiveram pelo seu povo. Mas muitos esquecem que tem descendentes negros, pois raras etnias são “sangue puro” segundo eles acreditam, pois nosso país tem uma miscigenação em grande escala podemos analisar que grande parte de toda população latino-americana vem de descendentes negros e indígenas.


“Ao perder o medo do feminismo negro, as pessoas privilegiadas perceberão que nossa luta é essencial e urgente, pois enquanto nós, mulheres negras, seguirmos sendo alvo de constantes ataques, a humanidade toda corre perigo”. A frase de Djamila Ribeiro, filósofa, escritora e pesquisadora brasileira, embora atual, reflete uma reivindicação antiga das mulheres negras em todo o mundo: o combate ao racismo e ao machismo estrutural.”


A forma como muitos setores de trabalho verem as mulheres ou ainda mulheres negras é inadmissível com salários menores e condições inadequadas de trabalho, às vezes  até  insalubres  pela mulher  ser negra. Um descaso, como se mulheres negras  não  pudessem  ter  trabalhos importantes. Algo que  choca é que muitas  mulheres  negras  têm apenas o ensino  fundamental ou médio. Muitas  vezes não  buscam  o ensino  superior pelo racismo  ou  machismo que sofrem  ou sofreram. Por fato de ouvirem a vida inteira que universidade é apenas para quem tem condições financeiras. Nós mulheres negras temos que nos conformar com trabalho de auxiliar de produção, faxineira e outros trabalhos onde visa força física. Essa luta não é antiga infelizmente, continua atual muitas mulheres e homens negros trabalhando em áreas considerada muitas vezes desumana, sendo feitos de escravos assalariados muitos dos nossos são considerados para trabalhos onde os demais não aceitam, mesmo nos tento um diploma comprovando ao contrário. 

Devemos continuar a luta para sermos valorizados de formas iguais, não dizerem que é frescura nossa.  Mas sim um direito que adquirimos através de muitas lutas.




“A luta para mudar esse cenário não é nova. No dia 25 de julho de 1992, aconteceu o primeiro Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-Caribenhas em Santo Domingo, na República Dominicana. A partir de então, a data ficou marcada pela união de movimentos sociais liderados por mulheres de diferentes contextos, mas que enfrentam desafios semelhantes.”


30 anos de luta feita por mulheres negras latino-americana e caribenhas, muitos anos de busca por serem ouvidas mas a luta ainda continua, não foi diminuído as reivindicações feita por essas mulheres pelo contrário, as conquistas feitas por elas às vezes estão em papéis e  não sendo usufruído por quem é de direito. Ficam barrados por quem tem o poder para isso. 


São muitas informações para fazer essa Autoetnografia, mas apenas utilizei algumas informações dos dois artigos para dialogar sobre Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas. Busquei  utilizar Cultura e  Diversidade para dar  continuidade  ao  trabalho. Foi difícil  focar  apenas  nesse tema  em específico. Pois  tem muitos assuntos  interessantes  sobre nós  negras  e  negros para expormos  na academia  e  sociedade. A nossa criatividade,  estudos e feitos. Por conta disso  vou trazer  um  ponto  a mais  no trabalho as curiosidades  que eu  considerei importante. 



Curiosidades:

 Poesia


Meu choro não é nada além de carnaval

É lágrima de samba na ponta dos pés

A multidão avança como vendaval

Me joga na avenida que não sei qualé

Pirata e super homem cantam o calor

Um peixe amarelo beija minha mão

As asas de um anjo soltas pelo chão

Na chuva de confetes deixo a minha dor

Na avenida, deixei lá

A pele preta e a minha voz

Na avenida, deixei lá

A minha fala, minha opinião

A minha casa, minha solidão

Joguei do alto do terceiro andar

Quebrei a cara e me livrei do resto dessa vida

Na avenida

Dura até o fim

Mulher do fim do mundo

Eu sou e vou até o fim cantar

(Trecho da música Mulher do Fim do Mundo, de Elza Soares)





Afrofuturismo: o que é o movimento e como está representado

 Afrofuturismo: o que é o movimento e como está representado

A ideia de retratar a existência negra no futuro, unindo alta tecnologia e a ancestralidade africana, nasceu nos EUA na década de 60 e ganhou múltiplos contornos no Brasil e no mundo.

Jaqueline dos Santos



“Movimento cultural, estético e político que se manifesta no campo da literatura, do cinema, da fotografia, da moda, da arte, da música, a partir da perspectiva negra, e utiliza elementos da ficção científica e da fantasia para criar narrativas de protagonismo negro, por meio da celebração de sua identidade, ancestralidade e história; em geral, obras pertencentes a este movimento procuram retratar um futuro grandioso, caracterizado tanto pela tecnologia avançada quanto pela superação das condições determinadas pela opressão racial, dentro do contexto da vivência africana e diaspórica. (Esta definição não exclui outras formas de descrever ou abordar o movimento, que possui conceituações variadas de diversos estudiosos e pesquisadores do tema.)”


Em um mundo onde o racismo contra os negros ainda está enraizado, é interessante demonstrar para os mesmo, um movimento  que vem pensando e protagonizando sua cultura ou até mesmo seus irmãos independe de onde estejam. Através de música, artes, literatura,  cinema e estética.

Muitos desses influenciadores como Nátaly Neri que é uma estilista negra onde busca divulgar seu trabalho pelo Instagram com roupas de brechó e com facilidade para pessoas que não tem como comprar roupas caras, até mesmo um canal sobre  Afro e Afins.

Imagina o cinema, a música com figuras negras influentes como Beyoncé, Michael Jackson entre outros. Com pouca influência no mundo artístico. Lutando pra mostrar a verdade nos bastidores pouco falado. Não se vitimizando como muitos alegam ou falam sobre os negros.

"   Ale Santos afirma que a narrativa afrofuturista esteve presente na construção do hip hop com Afrika Bambaataa, um dos precursores do gênero. “Há também alguns artistas como o Basquiat que tenta conectar a ancestralidade com um imaginário da rua. O próprio Michael Jackson já tinha várias ideias de futuro e isso aparecia em filmes e músicas dele”.

   Na literatura, um dos grandes nomes foi Octavia Butler, a “primeira dama da ficção científica”, que possui protagonistas negros em todos os seus 15 livros publicados.

  O termo “Afrofuturismo”, no entanto, só foi usado em 1994 pelo teórico e crítico cultural Mark Dery. Ele era um homem branco, norte-americano, que escreveu o ensaio Black to the future, em que analisou a presença negra no gênero de ficção especulativa. Ele constatou que por conta do apagamento sistemático do passado africano pré-colonial, isso fez com que não conseguissem se enxergar no futuro.

Algumas personalidades afrofuturista mundo afora são: Janelle Monáe, Erykah Badu, Billy Porter, Thundercat e Flying Lotus."

“Início do movimento

        Diversos profissionais negros mergulharam na temática do afrofuturismo. São autores ou artistas que trazem uma bagagem social, cultural e política em perspectivas nunca antes vistas na ficção científica. O movimento vem ganhando cada vez mais força com a cultura pop – com o filme Pantera Negra, ou o novo álbum visual Black is King da Beyoncé – mas ele é conhecido desde a década de 60.

         Um dos precursores foi o músico estadunidense Sun Ra. Em suas produções ele dizia que o planeta Terra era muito cruel e por isso pessoas negras africanas e diaspóricas deveriam viver em outros espaços. Space is the place (o espaço é o lugar) era o nome do álbum.”



Bem como o filme "A mulher do Rei" onde retrata mulheres guerreiras que lutam pelo seu povo e rei , dão sua vida para serem  as melhores.

Um protagonismo que enaltece o gênero feminino negro. Segundo a resenha do filme o mesmo é baseado em fatos reais, onde torna o mesmo alvo de muita perspectiva positiva para as futuras gerações.




Podemos observar que o Brasil também tem movimento afrofuturista.[...] no Brasil, as maiores expressões afrofuturistas estão em filmes como Branco sai, preto fica (2014), de Adirley Queirós, na música do grupo Senzala Hi-Tech e na ficção científica de Fábio Kabral, autor de O caçador cibernético da rua 13 (Malê) – romance que mistura crenças do Candomblé a um planeta tecnológico semelhante a Wakanda.

“Minha ideia é romper com a lógica ocidental e europeia de que o continente africano não tem nada a oferecer e, ao mesmo tempo, trazer uma visão afrocentrada, para que as produções ficcionais não sejam sempre histórias de brancos em que os pretos estão ligados ao crime ou são malandros”, afirma o escritor.

Segundo Hêlo D’ Angelo ‘’Ironicamente, o termo “Afrofuturismo” foi usado pela primeira vez por um homem branco, o teórico e crítico cultural Mark Dery, em seu ensaio Black to the future (1994). No texto, porém, Dery questiona a ausência de autores negros na literatura de ficção científica nos Estados Unidos – e, ao mesmo tempo, data o nascimento da estética que chamou de “afrofuturista” entre os anos 1960 e 1970, nas notas musicais do jazzista Sun Ra (que afirmava não ser deste planeta), nas palavras da escritora Octavia Butler (a primeira mulher negra a ganhar notoriedade no gênero da ficção científica) e, ainda, nos quadrinhos do Pantera negra, publicados pela primeira vez em 1966 pela Marvel Comics.

“Embora Sun Ra e Butler não se considerassem afrofuturistas, as características do movimento já eram visíveis em suas obras”, diz Kênia Freitas, que aponta algumas dessas marcas: a autoria e o protagonismo negros, a estética ancestral africana misturada ao futurismo e a exploração de temas que “atravessam a experiência de vida do autor”, como um Estado violento, o genocídio da população negra, o encarceramento em massa, a desigualdade social, choques culturais e, principalmente, a falta de liberdade.”

Podemos observar um movimento muito jovem e pouco conhecido no Brasil ou no meio acadêmico, mas que vem ganhando uma visibilidade muito grande em todo o mundo, onde muitos passando odiando o diferente.

Referências Bibliográfica:

https://www.fundacaotelefonicavivo.org.br/noticias/afrofuturismo-o-que-e-o-movimento-e-como-esta-representado/





Lorena Cabnal e Julieta Paredes: diálogos para um feminismo comunitário Maria Eugênia Ramos Ferreira O presente trabalho objetiva apresentar...