segunda-feira, 8 de julho de 2024

Lorena Cabnal e Julieta Paredes: diálogos para um feminismo comunitário



Maria Eugênia Ramos Ferreira


O presente trabalho objetiva apresentar os textos “Acercamiento a la construcción de la propuesta de pensamiento epistémico de las mujeres indígenas feministas comunitarias de Abya Yala” de Lorena Cabnal e “Hilando Fino” de Julieta Paredes. Ambas escritoras indígenas da latinoamérica e precursoras do feminismo comunitário. A autora Lorena Cabnal escreve a partir de sua experiência enquanto mulher, nascida na Guatemala, ativista, pertencente ao povo indígena maya-xinca; e a escritora Julieta Paredes parte, em seus escritos, de seu lugar enquanto mulher, também indígena, mas do povo aimará, nascida na Bolívia e militante. 

É por intermédio desse lugar de fala que as autoras propõem repensar a sociedade patriarcal e opressora que vivemos. Cabnal (2010), nesse sentido, introduz sua reflexão relatando que as opressões históricas e estruturais a fizeram reconsiderar a história e a cotidianidade em que vive, aderindo, deste modo, a um feminismo comunitário. Para ela, “el feminismo comunitario es una recreación y creación de pensamiento político ideológico feminista y cosmogónico, que ha surgido para reinterpretar las realidades de la vida histórica y cotidiana de las mujeres indígenas, dentro del mundo indígena” (CABNAL, 2010, p. 11-12). Essa definição parte da proposta elaborada pelas feministas comunitárias do coletivo Mujeres Creando Comunidad, impulsionado por Julieta Paredes.

Paredes (2010) entende que as mulheres enquanto a metade de cada povo são tratadas como mais um problema dentre tantos outros problemas, assim os problemas que transpassam as mulheres são colocados como menos importantes, sempre há algo mais urgente a ser solucionado. A autora percebe o feminismo, dessa maneira, como “[...] la lucha y la propuesta política de vida de cualquier mujer en cualquier lugar del mundo, en cualquier etapa de la historia que se haya rebelado ante el patriarcado que la oprime” (2010, p. 76).

Desenvolvimento:

Com essas perspectivas em mente, as autoras desenham os caminhos para um feminismo comunitário. Julieta Paredes (2010) concebe a revolução a partir da Bolívia pelas mãos dos povos indígenas e, principalmente, das mulheres feministas comunitárias. Escrevendo desde a Bolívia, a escritora aponta que o feminismo ocidental responde às necessidades das mulheres da sociedade ocidental, “ellas desarrollaron luchas y construcciones teóricas que pretenden explicar su situación de subordinación” (2010, p. 75). 

Quando essas lutas e construções teóricas instauram-se no mundo de relações coloniais, imperialistas e transnacionais, essas teorias convertem-se em hegemônicas no âmbito internacional e invisibilizam, deste modo, as demais realidades e aportes. Paredes (2010) afirma que não pretende desmerecer a luta dessas feministas ocidentais em suas sociedades, mas posicionar o processo feminista e as mudanças por meio da Bolívia. 

O feminismo ocidental nasce na revolução francesa com a fundação da república, da democracia e do Estado moderno. Surge para contrariar essa sociedade liberal e burguesa que defende os direitos individuais dos homens burgueses, mas não das mulheres burguesas. Já que, quando as mulheres passaram a buscar os direitos instituídos pela revolução francesa (fraternidade, igualdade e liberdade; direito à propriedade privada e ao voto), foram guilhotinadas (2010, p. 77). 

Deste modo, a autora indica:

El feminismo occidental afirma a la individua mujer frente al individuo hombre. La revolución francesa afirma los derechos de los individuos hombres, la propriedad privada, la libertad, derecho al voto, la igualdad entre hombres, etc. Las mujeres no tenían estos derechos, por eso hay dos formas de afirmarse de las mujeres como individuas frente a los hombres (2010, p. 77-78). 


Compreende que, desde a luta de mulheres feministas comunitárias, não há revolução: 

[...] cuando nuestros cuerpos de mujeres sigan siendo colonia de los hombres, los gobiernos y los Estados. No hay revolución, cuando las decisiones sobre nuestros cuerpos, sean tomadas por los hombres, curas, jueces, maridos y padres. Las mujeres somos la mitad de cada pueblo, una mitad que cuida cría, protege y va a parir a la otra mitad que son los hombres (2010, p. 39). 


Na mesma linha, Cabnal (2010) concebe a pluralidade dos feminismos construídos no mundo inteiro visando dar continuidade a resistência, transgressão e epistemologia das mulheres nos espaços e temporalidades para a abolição do patriarcado originário ancestral e ocidental. O feminismo comunitário, na concepção da autora, fez com que passassem a olhar para dentro de si e das comunidades tradicionais de forma crítica, radical, rebelde e transgressora. Esse olhar é, portanto, fundamental para dar vida ao feminismo comunitário. 

Acerca disto, Paredes (2010) parte da compreensão de que a comunidade é o princípio inclusivo que cuida da vida. Para construí-lo é necessário desmistificar a noção chacha-warmi (homem-mulher) que nos impede de analisar a realidade de vida das mulheres no nosso país. No feminismo ocidental, essa luta significou que as mulheres posicionaram-se como indivíduos perante os homens. 

Nessas duas vertentes do feminismo, a mulher é igual ao homem ou a mulher é diferente do homem, ou seja, trabalha-se o conceito de igualdade ou de diferença. Essas concepções, no entanto, não funcionam dentro da percepção boliviana, uma vez que, “[...] nuestras formas de vida aquí en Bolivia con fuertes concepciones comunitarias” (2010, p. 79). Assim, para pensar dentro da realidade em que vive, a autora afirma: “No queremos pensarmos frente a los hombres, sino pensarnos mujeres y hombres en relación a la comunidad.” (2010, p. 79).

Como mulher indígena, Cabnal (2010) afirma que os pensamentos das mulheres indígenas foram alienados pelo pensamento do feminismo ocidental e, deste modo, as mulheres indígenas constituem-se como “mujeres con reflexiones y acciones aculturales.” (2010, p. 14). Usa a categoria “patriarcado” pelo seguinte entendimento:

[...] la categoría ‘patriarcado’ ha sido tomada como una categoría que permite analizar a lo interno de las relaciones intercomunitarias entre mujeres y hombres, no solo la situación actual basada en relaciones desiguales de poder, sino cómo todas las opresiones están interconectadas con la raíz del sistema de todas las opresiones: el patriarcado (2010, p. 14).

É por essa perspectiva que se constrói a epistemologia do feminismo comunitário, pois afirma-se que existe o patriarcado originário ancestral e este é um sistema milenar e estrutural de opressão contra as mulheres indígenas ou originárias (2010, p. 14). A base de opressão desse sistema é estabelecida desde uma filosofia que toma a hetero-realidade cosmogônica como uma norma para  vida das mulheres e dos homens e deles para sua relação com os cosmos. 

Sob essa concepção, Paredes (2010) introduz a noção dos indigenistas de que o feminismo é ocidental e que não há necessidade de introduzir esses pensamentos dentro da sociedade. Para eles, a prática da complementaridade chacha-warmi (homem-mulher) é suficiente e que só é necessário praticá-la, já que o machismo chegou com a colonização. 

O que ambas as autoras argumentam é a existência do patriarcado e do machismo dentro das comunidades indígenas. Paredes (2010) defende que o chacha-warmi não reconhece a real situação das mulheres indígenas, não incorpora a denúncia de gênero na comunidade e naturaliza a discriminação. Denomina como “machismo indigenista”, este defende: 

que es natural que las mujeres tengan esos roles en las comunidades, no quieren analizar y reconocer que esos roles y actividades de las mujeres, son consideradas menos, de menor valor, de menor importancia, lo cual significa mayor explotación de la fuerza de trabajo de las mujeres (2010, p. 80). 


Naturaliza-se, portanto, a discriminação, as desigualdades, a exploração e a opressão das mulheres: “es considerar natural que las mujeres cumplan esos roles y por consecuencia natural que estén subordinadas y los hombres privilegiados por ejempo con tener más tiempo, escula, mayor salario, mayor respeto a su palabra” (2010, p. 80). 

A autora revela que, o chacha-warmi possui essa ideia de complementaridade, porém é uma complementaridade hierárquica e vertical, deste modo, homens acima e privilegiados e mulheres abaixo e subordinadas. Deseja, portanto, uma complementaridade horizontal, sem hierarquias. 

A comunidade, na Bolívia, significa: “los hombres de la comunidad y no las mujeres.” (2010, p. 91). Deste modo, as decisões, as falas, as representações veem dos homens e as mulheres permanecem atrás dos homens ou abaixo deles ou subordinadas, como brindes dos homens. 

Na prática sociopolítica das comunidades, nacionalidades, povos, organizações e movimentos sociais, a representação e o poder continua vindo dos homens. É a expressão da patriarcalização e da colonização das comunidades que consideram alguns inferiores ou sem direitos e oportunidades de outros.

Cabnal (2010) emprega o termo patriarcado originário para abordar a configuração de papéis, usos e costumes, princípios e valores dentro das comunidades originárias. Para a autora, é uma questão que se fortaleceu com o tempo. As guerras entre os povos originários é um exemplo de como funciona o patriarcado originário, na disputa por diferentes territórios, os vencedores exerciam supremacia contra os vencidos. 

Essas guerras eram históricas e são narradas em livros antigos, glifos (signos entalhados ou pintados, como hieróglifos egípcios ou os glifos da escrita maia) e inscrições em pedra. As histórias escritas e/ou passadas pela oralidade sobre essas guerras abordaram os feitos de grandes senhores, governantes e guerreiros, dessa forma, a autora questiona:

si los hombres eran guerreros e iban y hacían la guerra contra sus vecinos territoriales, ¿dónde quedaban las mujeres, cuál era su rol?, esta división sexual de la guerra, también me lleva a pensar en cómo se configuraba la estratificación de castas de guerreros, de gobernantes, reinados, guías espirituales, sabios y pueblo. (2010, p. 15).

O patriarcado originário ancestral se reconstrói com a penetração do patriarcado ocidental. Nessa conjuntura, a autora aponta que se cria espaços próprios para o nascimento da perversidade, do racismo, do capitalismo, neoliberalismo, globalização e outros. Para Cabnal (2010), existiam condições prévias nas culturas originárias para o fortalecimento do patriarcado ocidental. 

Essa hetero-realidade cosmogônica originária é a norma que estabelece desde o essencialismo étnico que todas as relações da humanidade e desta com os cosmos está baseada em princípios e valores como a complementariedade e a dualidade heterossexual para a harmonização da vida. De acordo com a autora, isso constitui a mais sublime imposição ancestral da norma heterossexual obrigatória, na vida de mulheres e homens indígenas, e é legitimada por práticas espirituais que a chamam de sagrado (2010, p. 16). 

A autora aponta que nas cosmovisões originárias, os elementos cósmicos feminino e masculino organizam-se em que um depende, se relaciona e se complementa com o outro. Na base filosófica dessas cosmovisões, fortaleceu-se práticas de espiritualidade hegemônica com a qual se perpetua a opressão das mulheres na sua relação heterossexual com a natureza. Nesse sentido:

el patriarcado es el sistema de todas las opresiones, todas las explotaciones, todas las violencias, y discriminaciones que vive toda la humanidad (mujeres hombres y personas intersexuales) y la naturaleza, como un sistema históricamente construido sobre el cuerpo sexuado de las mujeres (2010, p. 16). 


Perante isto, Paredes (2010) compreende que a comunidade, composta de mulheres e homens, invisibiliza mulheres devido a hegemonia masculina. Como solução, Paredes (2010) reconhece a alteridade, ou seja, a existência real do Outro, para a redistribuição dos benefícios de trabalho e a produção em partes iguais, isto é, redistribuir os frutos do trabalho e das lutas. Devolver, deste modo, o que o patriarcado roubou. Conclui afirmando “[...] que las mujeres somos la mitad de cada comunidad, de cada pueblo, de cada nación, de cada país, de cada sociedad”  (2010, p. 94).

Para Cabnal (2010) esses acontecimentos levaram-a a perceber a importância de incentivar os pensamentos das mulheres indígenas de diversos povos originários. É preciso criar espaços e encontros de reflexão para construir coletividades transgressoras e propostas para uma nova vida, contra o patriarcado e as hegemonias que circundam as comunidades e o mundo. Essas ações, de acordo com a autora, competem não só as mulheres, mas a homens visando “[...] refuncionalizan, transforman o apuestan a las aboliciones.” (2010, p. 25). 


Referências bibliográficas

CABNAL, Lorena. Acercamiento a la construcción de la propuesta de pensamiento epistémico de las mujeres indígenas feministas comunitarias de Abya Yala. IN: ACSUR. Feminismos diversos: el feminismo comunitario. 2010, p. 7-33.

PAREDES, Julieta. Hilando Fino. Desde el feminismo comunitario. La Paz: Enero, 2010.

 

 A “CIDADE VERMELHA” E O NAVIO-PRISÃO RAUL SOARES: a influência da Ditadura Civil-Militar na cidade de Santos/SP


Maria Eugênia Ramos Ferreira


Introdução

Uma vez conhecida como a “cidade vermelha”, a cidade de Santos/SP foi duramente afetada pela Ditadura Civil-Militar instaurada em 1964. Estabeleceram-se uma série de medidas para controlar a região, entre elas: a chegada do navio-prisão Raul Soares, rebocado do Rio de Janeiro, em 24 de abril de 1964. O navio ficaria na cidade até novembro, quando é rebocado de volta ao Rio de Janeiro e desmontado (BURATTO, 2017); e, em 12 de setembro de 1969, o município passa a ser considerado área de Segurança Nacional em virtude do Decreto-Lei nº 865 (BRASIL, 1969) e, deste modo, passaram a ser realizadas eleições indiretas para o cargo de prefeito. 

Atracado no Porto de Santos, tomado por inúmeras avarias, o navio serviu de prisão e espaço de tortura para cerca de 500 presos políticos, muitos sindicalistas ou integrantes do movimento estudantil. Assim, iniciaremos o presente trabalho abordando a trajetória percorrida pelo movimento sindical em Santos até o golpe militar de 1964. 


Os caminhos do movimento sindical em Santos/SP

São diversas as razões para o controle ditatorial no município caiçara. De acordo com Rosa Maria Cardoso da Cunha (s/d, p. 3), “os trabalhadores e seu movimento sindical constituíram o alvo primordial do golpe de Estado de 1964, das ações antecedentes dos golpistas e da ditadura militar”. Destacaremos, neste sentido, a importância do movimento sindical na região.

Em virtude das transformações passadas por Santos devido ao porto, ao aumento das exportações de café e da movimentação de navios, o movimento operário destacou-se em nível nacional. O autor Rafael Pedroso Buratto (2017) indica que em 1897 ocorreu uma das primeiras greves no município que durou 15 dias. Os trabalhadores reivindicavam melhorias na área da segurança para exercerem suas atividades e o ajuste de seus salários, a greve foi interrompida com a chegada de tropas à Santos por meio de um navio cruzador à mando do Estado (BURATTO, 2017). 

Os carroceiros iniciam outra greve em 1904, esta é aderida por outras classes trabalhadoras e a cidade passa pelo risco de ficar sem abastecimento. Exigia-se aumento de salários e regulamentação das admissões e demissões dos empregados, novamente a greve é interrompida violentamente com a intervenção do Governo Federal que enviou outro navio cruzador para a cidade. Quatro anos depois instaura-se uma nova greve, mobilizada pelos operários da Companhia Docas, empresa privada que administrava as operações do porto santista. Os trabalhadores reivindicavam uma jornada de trabalho de 8 horas e o aumento salarial. Foram reprimidos violentamente com tropas do exército, o que gerou inúmeros conflitos. Para controlar a situação e finalizar a greve, a Associação Comercial de Santos promoveu negociações entre grevistas e a Companhia Docas. A greve foi encerrada com o governo comprometendo-se e responsabilizando-se pelo reajuste salarial dos operários (BURATTO, 2017).

Estes são alguns exemplos de greves ocorridas na região que tiveram, como resposta, a violência do Estado. A tensão na cidade e a instauração de greves gerais, paralisações e manifestações ocorreram até a década de 1920. Buratto (2017) identifica que: “Os sindicatos lutavam por redução na jornada de trabalho, regularização do trabalho de mulheres e crianças, aumento de salário e até contra a

inflação.” (p. 17). 

As lutas dos sindicatos unificou-se através do Fórum Sindical de Debates (FSD), fundado em 1953 por líderes sindicais de diversos setores. Nele, agregou-se 53 sindicatos da baixada santista. Tornou-se, nesse sentido, símbolo da “[...] unidade de pensamento e ação dos trabalhadores” (2017, p. 19). No final da década de 50, por exemplo, todos os setores do porto de Santos estavam mobilizados “[...] em manifestações de solidariedade às organizações de classe” (2017, p. 19). Apesar do FSD não ter sido reconhecido pelas autoridades estaduais e federais, a Câmara Municipal de Santos considerou-o como uma utilidade pública.

  Nos anos seguintes, entre 1960 a 1964, o Brasil viveu o auge da luta sindicalista (RODRIGUES, 1997 apud COELHO, 2019), o que foi sentido em Santos. O pesquisador Leôncio Martins Rodrigues (1997), citado pelo professor Helder Marques de Sousa Coelho, afirma:  

A cidade de Santos sempre ocupou um espaço relevante no movimento sindical do País em virtude da importância de seu porto no qual os comunistas tiveram um papel destacado em vários momentos. Nos primeiros anos da década dos sessenta, o papel de Santos e da Baixada Santista na política e no sindicalismo brasileiro viria a se ampliar ainda mais depois da implantação de novas atividades industriais de base, como a Refinaria Arthur Bernardes e a Cosipa, que fizeram do Sindipetro e dos Metalúrgicos de Santos, ao lado do Sindicato da Estiva, forças importantes no movimento sindical e mesmo na política do País (RODRIGUES, 1997 apud COELHO, 2019, p. 75).


Até o início da ditadura civil-militar, a cidade de Santos enfrentou inúmeras greves e paralisações: foram registradas seis paralisações em 1960; no ano seguinte, cinco paralisações no porto e uma greve geral na baixada santista; em 1962, três greves gerais na região e 18 movimentações para início de greves, ou seja, estados de greve; 23 greves realizadas no porto de Santos durante o ano de 1963. Essas greves tiveram diversos motivos, entre eles a questão trabalhista e o apoio ao movimento das demais categorias. Em setembro deste mesmo ano, por exemplo, o Fórum Sindical de Debates e a União dos Sindicatos da Orla da Marítima de Santos convocaram uma greve geral em solidariedade aos funcionários da Santa Casa de Misericórdia de Santos que se negou a atender as reivindicações destes (BURATTO, 2017, p. 19; COELHO, 2019, p. 76). 

Sobre esta última greve em específico, o governador de São Paulo, Adhemar Barros respondeu violentamente. A polícia militar prendeu cerca de 200 pessoas, o que ampliou o movimento. O Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) respondeu ameaçando uma greve geral de amplitude nacional e o Ministro da Guerra, Jair Dantas Ribeiro, ameaçou ordenar a intervenção na cidade (COELHO, 2019, p. 76). O Secretário de Segurança Pública de São Paulo acusou José Gomes, prefeito de Santos, de inflar a greve, ameaçando prender José Gomes. O prefeito, por sua vez, publicou uma nota clamando pela resistência da população. 

O governo de João Goulart passou a trabalhar, por intermédio do Ministro do Trabalho, Amaury Silva, para encerrar a greve, liberar os presos e dar um fim às inúmeras ameaças. Quatro dias após o início da greve, o FDS declara nos jornais que a greve foi suspensa e que o movimento grevista saiu vitorioso. É importante apontar que essas greves apresentavam resultados, o setor portuário conquistou no ano de 1963 “[...] um conjunto de 17 benefícios, entre eles, férias em dobro, licença-prêmio e complementação aos aposentados para equiparação salarial com os portuários da ativa.” (COELHO, 2019, 76). 

No ano seguinte, em 31 de março de 1964, os militares desferiram um golpe de Estado. Neste dia, os sindicatos mais influentes da cidade foram invadidos, sendo eles: o Sindicato dos Empregados na Administração Portuária e o Sindicato dos Estivadores e dos Conferentes de Carga e Descarga. Buratto (2017) entende que a escolha de invadir primeiro estes dois sindicatos deu-se “[...] por serem potencialmente perigosos devido à quantidade de trabalhadores que poderiam ser

mobilizados em pouco tempo” (2017, p. 20). Em sequência, os sindicatos sofreram com a intervenção do Estado, sendo atribuídos interventores civis que estivessem ligados às suas categorias.

Cardoso (s/d) afirma que “[...] cerca de 70% dos sindicatos com cinco mil filiados ou mais” (p. 6) sofreram intervenção durante a Ditadura Civil-Militar. Entre os anos de 1964 a 1970 foram afetadas 536 entidades e cassados cerca de dez mil dirigentes sindicais (GASPARI, 2002 apud CARDOSO, s/d). Além do cerceamento aos sindicatos, o Estado brasileiro empenhou-se em empregar uma política terrorista à população brasileira. A seguir iremos observar um desses casos a partir do navio-prisão Raul Soares.


O navio-prisão Raul Soares: da estrutura às torturas

Chega, no dia 24 de abril de 1964, o navio-prisão Raul Soares aos mares santistas. Construído em 1900 por uma armadora alemã e batizado de Cap Verde, o navio transportava até 580 passageiros. Ao final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o navio foi repassado aos britânicos, momento em que permaneceu inutilizado até 1922, quando foi recomprado pela armadora alemã Hamburg Süd (SOUZA, 2004, p. 24). Agora, sob o nome Madeira, o navio realizava viagens entre a Europa e a América do Sul. Deixa de transportar somente pessoas, inserindo-se no mercado de transporte de cargas. 

O Memorial da Resistência, em material produzido no ano de 2014 e denominado “Navio Raul Soares”, entende que devido aos avanços da construção naval, o navio Madeira tornou-se abaixo da qualidade esperada e, em 1925, foi comprado pela empresa Lloyd Brasileiro, uma estatal nacional de navegação. Assim, rebatizaram-o para “Raul Soares”. Sobre os usos do navio, Buratto (2017, p. 22) indica:

A embarcação foi utilizada na rota Norte e Nordeste do país para o Porto de Santos, transportando migrantes e cargas. Durante a Segunda Guerra Mundial, Raul Soares foi cedido para o transporte da Força Expedicionária Brasileira em viagens de ida e volta à Europa.


Foi desativado e permaneceu atracado no cais da Ilha de Mocanguê até 1964, quando os militares requisitaram-o em função da superlotação dos cárceres. Circunstância comum à Ditadura Civil-Militar uma vez que: “Espaços anódinos ao sistema prisional foram tomados “emprestados” para caber os que cometeram o crime de pensar diferente dos que chegavam para comandar o país.” (COMISSÃO, 2013, p. 2).

O navio foi pintado de preto, rebocado para Santos pelo rebocador “Tridente” da Marinha de Guerra e atracado na Ilha de Barnabé, no porto de Santos. Dividiu-se os porões em pequenas celas e os calabouços do navio eram utilizados para torturas. Ironicamente, as celas em que ocorriam as torturas receberam os nomes de boates localizadas em Santos. Buratto (2017) identifica três celas: “El Marroco” denominava a cela próxima a caldeira do navio, em que o calor era insustentável; ao passo que “Night and Day” referia-se a cela ao lado do frigorífico; e “Casablanca” onde as fezes dos presos eram jogadas (2017, p. 25). 

Entre os seus primeiros presos políticos estavam “[...] sindicalistas e operários que haviam se envolvido nas inúmeras greves que atravessaram as décadas de 1950 e 1960 no litoral paulista, e militares que não apoiaram o golpe.” (PROGRAMA, 2014, p. 3). Buratto (2017, p. 23) afirma que os primeiros presos políticos eram quarenta sargentos do Exército e da Aeronáutica, confinados, até então, na Base Aérea de Santos e no Forte dos Andradas, ambos em Guarujá/SP. 

Acerca desta questão, o relatório, encontrado nos arquivos do Comitê Brasileiro pela Anistia no acervo Armazém Memória, revela que o golpe de 1964 provocou uma repressão generalizada e indistinta de civis e militares. O documento reafirma o que foi levantado por Buratto (2017), entre os militares presos estavam sargentos e marinheiros que se aliaram às forças revolucionárias ou progressistas. Com relação aos civis foram perseguidos, principalmente, os integrantes do movimento camponês, dos sindicatos, associações, federações e ligas. A repressão, no entanto, não restringia-se somente a estes, deste modo, estudantes, funcionários públicos e ferroviários, por exemplo. O Comitê resume: 

todos os que, de uma forma ou de outra, haviam se organizado e participado, com maior ou menor intensidade, na luta pela transformação da sociedade brasileira, se viram de um instante para outro privados de suas entidades de classe, perseguidos em suas casas ou locais de trabalho; inúmeros foram presos e torturados (s/d, p. 73). 


A Comissão Nacional da Verdade (2014) identifica que o navio-prisão Raul Soares recebeu presos em massa. De acordo com o relatório da Comissão (2014, p. 309): 

As prisões em massa começaram a ocorrer antes mesmo do início do golpe militar, mas já dentro de sua lógica e fundamento, com o fim de inviabilizar a atuação dos sindicatos e as conquistas que poderiam advir da luta dos sindicalistas em favor dos trabalhadores brasileiros.


O navio estava em condições precárias e recebeu cerca de 500 presos. Este número é estimado pela jornalista e pesquisadora Lídia Maria de Melo, autora do livro “Raul Soares: um navio tatuado em nós”. É preciso, segundo a jornalista, computar as pessoas que passaram dois ou três dias no navio, atualmente contempla-se apenas os que permanecerem meses no navio-prisão (PROGRAMA, 2014, p. 3). 

Entre os presos estavam, por exemplo, o Dr. Thomas Maack, médico e antigo professor da Universidade de São Paulo - USP. Maack envolveu-se, desde sua juventude, com o movimento estudantil e sindicatos. Era auxiliar de ensino no Departamento de Fisiologia da FMUSP quando foi preso em 8 de junho de 1964. Levado por agentes do Departamento da Ordem Pública e Social (DOPS), o médico era acusado de subversão e de planejar a inserção do comunismo no Brasil. Passou três semanas no Quartel do Exército de Quitaúna, em Osasco/SP, até ser transferido para o Palácio da Polícia em Santos/SP. Passou quatro meses incomunicável no navio-prisão Raul Soares (COMISSÃO, 2014, p. 8). 

Maack, em depoimento à Comissão Nacional da Verdade, afirma: 

Meus pais não puderam me ver enquanto eu fiquei preso porque em Quitaúna e no Raul Soares eu estava incomunicável, e no Palácio da Polícia para onde fui levado quando a “prisão” do navio foi desativada, as condições eram tão ruins e deprimentes, que eu não queria que eles me vissem naquele lugar (2014, p. 8). 


Ademar dos Santos, líder sindical do Sindicato dos Serviços Portuários e diretor suplente da Federação Nacional dos Portuários, foi preso em 1964. Afirma-se que, dias antes do golpe, o sindicalista foi fotografado ao lado de Leonel Brizola, Miguel Arraes, Francisco Julião e outras lideranças em um encontro de metalúrgicos na cidade de Contagem, MG (COMISSÃO, 2014, p. 10). De início, enviaram-o para unidades militares até, por fim, ser encarcerado nos porões do navio Raul Soares. O relatório aponta que Ademar dos Santos permaneceu incomunicável por noventa e dois dias o que se enquadra em uma situação de isolamento prolongado “[...] que viola a integridade psíquica e moral da pessoa e os direitos de ter uma defesa efetiva e de questionar a legalidade da detenção.” (2014, p. 825). O sindicalista relatou à Comissão:

Depois de uma incomunicabilidade de 92 dias no camarote 29, os colegas Iradil e Aldo Ripasarti reivindicaram o fim de sua incomunicabilidade e a descida para o porão. Eu estava todo este tempo sem falar com nenhum deles e sem banho de sol ou arejamento, como chamavam (2014, p. 825). 


As condições no navio-prisão eram precárias, as celas eram invadidas pela água do mar, “[...] em algumas a água chegava até o joelho.” (2014, p. 825), constantemente o navio era infestado por insetos. Além disso, os presos enfrentam muito frio, pois não havia cobertas para todos e o chão era frio e úmido. Com relação a alimentação, o documento revela que, em diferentes depoimentos, descreveu-se a comida como “‘nojenta’, ‘ruim’, e feita em péssimas condições de higiene, e os presos tinham que utilizar colheres que não eram lavadas.” (2014, p. 825). Na questão de saúde, o médico Thomas Maack teve que ajudar no atendimento dos presos e tripulantes, muitos com doenças crônicas, uma vez que o médico encarregado pelo serviço no navio deixou de comparecer. Em função disto, Maack foi homenageado pela Câmara Municipal de Santos e pelos Sindicatos e Trabalhadores Unidos do Porto de Santos com o título “Cidadão Portuário” em 2012. 

Quando as visitas eram permitidas ocorriam de modo humilhante para as companheiras e familiares dos presos, desta forma, enfrentavam 

[...] revistas vexatórias nos navios, situação que infringe a integridade e a dignidade humana. Há relatos de que, no Raul Soares, as mulheres eram obrigadas a ir de vestidos, não podiam usar calças, para que, quando subissem a escada de corda do navio, fossem zombadas pelos militares (2014, p. 825). 


As mulheres deviam ficar nuas para as revistas que eram realizadas por outras mulheres. O uso de vestidos era obrigatório nas repartições públicas. Wilma Maransaldi, neta de Waldemar Neves Guerra (presidente do Sindicato da Administração dos Serviços Portuários), relembra que se indignava com essa situação durante as visitas ao seu pai no navio-prisão Raul Soares. Ademais, os militares proibiram constantemente que as famílias levassem alimentos para os presos. Maransaldi recorda (2014, p. 826): 

[...] tem uma imagem que não me sai da lembrança. A de Geni

 Guarnieri, que não conseguia subir a escadinha estreita, de corda. Chorava de medo enquanto os marinheiros riam dela. E também a da esposa do Osmar Alves Campos Golegan, que estava grávida e também tinha dificuldade para subir. Nenhum deles ajudava. 

As visitas aos presos “incomunicáveis” ocorriam com a presença de dois soldados. Benedita Ripassarti, viúva de Aldo Ripassarti, relatou à Comissão: “Íamos para a fila no porto às quintas-feiras e domingos pegar o passe para entrarmos nas lanchas que nos levavam até o navio. Eu preparava algumas merendas para ele.” (2014, p. 826).

No navio os presos políticos sofriam com torturas físicas e psicológicas nas celas improvisadas. Nelson Gatto relatou serem constantes as ameaças de serem jogados em alto-mar ou aprisionados nos calabouços do navio, outros relatos indicam que os militares ameaçavam afundar o navio em alto-mar com todos dentro. Entre as práticas de tortura física estava a transferência constante de presos entre celas próximas a caldeira e celas próximas ao frigorífico. Vários presos políticos enfrentaram essa forma de tortura, no relatório da Comissão Nacional da Verdade (2014) destacam-se os nomes de Nelson Gatto, Aldo Ripassarti e Tomochi Sumida. 

O estudante Tomochi Sumida, na época diretor da UNE, permaneceu trancado em um frigorífico: “De tempos em tempos era permitida a entrada de ar. Em seguida era levado para a cabine ao lado da caldeira. Franzino, Sumida parecia ficar a cada dia mais debilitado em razão dessas bruscas mudanças de temperatura.” (OLIVEIRA, 2013, p. 50 apud PROGRAMA, 2014, p. 5). 

Maack confirma, em depoimento, a série de torturas contra Sumida. De acordo com o médico, o aprisionamento em celas inundadas, como ocorreu com ele, ou em celas com variações extremas de temperatura eram as formas de castigo e punições mais comuns. Assim, os presos pediam-lhe que os ajudasse e Maack encarregava-se de informar para o comandante do navio que a tortura estava afetando a saúde dos presos. 

Afirma em seu relato: “O caso mais grave que vi foi o de Tomoshi Sumida, que era frequentemente encarcerado na “cela quente e fria” e realmente sua saúde estava sendo afetada” (COMISSÃO, 2014, p. 826). Deste modo, avisou o comandante do navio que era preciso cessar a tortura: “o comandante do navio tinha realmente um medo enorme que algum dos prisioneiros morresse no navio, um medo que se devia menos a compaixão por prisioneiros, do que o medo que os outros prisioneiros se revoltassem.” (2014, p. 826).

Percebemos, portanto, as mudanças de utilidade do navio Raul Soares: de um simples navio de passageiros alemão à navio-prisão que atuou, inclusive, como encarceramento na Revolta Tenentista do início da década de 1920 (RODRIGUES, 2014 apud PROGRAMA, 2014, p. 2). A ideia de transformar um navio em uma prisão devia-se, nesse sentido, ao cerceamento de direitos para os prisioneiros. Basicamente, a possibilidade de executar o que os militares desejassem.   


Considerações Finais

Sete meses após seu atracamento no porto de Santos, o navio-prisão Raul Soares foi desativado. Alguns presos foram libertados, enquanto outros foram encaminhados para as cadeias do Palácio da Polícia na cidade. As torturas físicas e psicológicas com presos e familiares revela uma situação de constante violação dos direitos humanos. 

Entendemos que o papel fundamental na luta sindical, a localização estratégica e a existência do maior complexo portuário da América Latina na cidade tornaram Santos área de interesse nacional e motivo de grande preocupação para as autoridades golpistas. Os sindicatos existentes possuíam forte capacidade de mobilização rápida, o que representava um risco para os militares. Além disso, o Fórum Sindical de Debates (FSD) possuía amplo alcance nacional, podendo “[...] movimentar grandes massas de operários contra o governo, e proporcionar greves gerais, paralisando cidades.” (2017, p. 32). 

Mostrou-se necessário, portanto, invadir e desmantelar sindicatos e organizações civis. Os que não foram fechados, receberam interventores sindicais indicados pelo Estado, estes deviam “[...] articular e aprovar propostas do governo e

evitar as greves.” (2017, p. 32). Somadas as ações contra os sindicatos, era preciso impossibilitar a organização política dos santistas. Assim, a cidade sofreu com a intervenção federal que durou quinze anos e despolitizou a sociedade. 

Como tentativa de sufocar qualquer possível organização de resistência à Ditadura Civil-Militar, compreendemos que o governo militar utilizou o navio-prisão Raul Soares como forma de aterrorizar a “cidade vermelha”, os militantes políticos e todo o estado de São Paulo. 


Referências Bibliográficas

BRASIL. Decreto-Lei n. 865, de 12 de setembro de 1969. Declara de interesse da Segurança Nacional, nos termos do art. 16, § 1º, alínea b, da Constituição, o Município que especifica, e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 1969. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1965-1988/del0865.htm>. Acesso em 22 out. 2023. 

BURATTO, Rafael Pedroso de Campos. Raul Soares: Um Navio que veio à Santos silenciar. Monografia (Especialização em História, Sociedade e Cultura) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2017.

COELHO, Helder Marques de Sousa. Jornal Sem Patrão: O Preto no Branco no enfrentamento da ditadura militar. Dissertação (mestrado em Comunicação Social) - - Diretoria de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2019.

COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE (Brasil). Brasília, 15 maio 2015. Disponível em: <https://www.docvirt.com/docreader.net/ComissaoVerdade/30431>. Acesso em 20 out. 2023.

COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE (Brasil). Navios-prisões [relatório]. Contextualização, fundamentos e razões do Golpe Civil-Militar de 1964. 2014.

COMITÊ Brasileiro pela Anistia. Relatório. Disponível em: <https://www.docvirt.com/docreader.net/DocBNM/63513>. Acesso em 15 out. 2023.

CUNHA, Rosa Maria Cardoso da. A luta dos trabalhadores por verdade, justiça e reparação [relatório]. Grupo de Trabalho: Ditadura e Repressão aos Trabalhadores, às Trabalhadoras e ao Movimento Sindical, s/d.

PROGRAMA Lugares da Memória. Navio Raul Soares. Memorial da Resistência de São Paulo, São Paulo, 2014.

SOUZA, Manoel Fernando F. de. Raul Soares: 40 anos de uma amarga lembrança. Revista Santos Modal: Santos, junho de 2004, p. 24.


 

Relaciones Económicas Venezuela-China


(2000-2018)


Jesus Alberto Leon


Resumen
         Este artículo científico aborda y describe las Relaciones Económicas y diplomáticas entre Venezuela-China, esta historia se remonta a finales del siglo XX, cuando ambos países establecieron vínculos formales en 1974. Sin embargo, fue en los últimos años cuando estas relaciones se fortalecieron significativamente.
           El ascenso del presidente Hugo Chávez en 1999 marcó el comienzo de una asociación más estrecha, impulsada principalmente por el interés mutuo en los recursos energéticos y la oposición a políticas consideradas hegemónicas por Estados Unidos. Desde entonces, los vínculos diplomáticos y económicos entre Venezuela y China se han intensificado, con importantes acuerdos en áreas como energía, comercio e inversión.
             China se ha convertido en un socio importante para Venezuela, brindando inversión y asistencia financiera, mientras que Venezuela exporta petróleo y otros recursos naturales a China. Esta relación estratégica tiene implicaciones significativas para ambos países y para la geopolítica global. Venezuela posee vastas reservas de petróleo y China es uno de los mayores consumidores mundiales de este recurso. La asociación permite a Venezuela suministrar petróleo a China, asegurando un suministro estable para la creciente demanda energética de China. Además, China invierte en varios sectores de la economía venezolana, como minería, agricultura, telecomunicaciones e infraestructura, contribuyendo al desarrollo económico del país.
Palabras claves: China, Venezuela, Cooperación, Asociación bilateral, desarrollo económico.
Introducción
            Este artículo científico analiza los acuerdos de préstamo de petróleo entre China y Venezuela y su importancia en la asociación bilateral entre ambos países. La relación chino-venezolana se caracteriza por una importante cooperación económica, en la que China otorga préstamos a Venezuela a cambio de suministros de petróleo. Las relaciones chino-venezolanas han sido significativas a lo largo de la historia, especialmente a partir de la llegada de Hugo Chávez a la presidencia de Venezuela en 1999. Durante la Guerra Fría, en 1974 se establecieron relaciones diplomáticas entre ambos países, marcando un hito importante en su interacción.
         Además, la asociación cubre varios sectores, como tecnología, infraestructura y política, contribuyendo al desarrollo económico y la estabilidad. Venezuela ha recibido inversiones directas de China, con condiciones favorables establecidas por el gobierno venezolano, lo que ha sido facilitada por la recepción de Inversiones Extranjeras (IED) chinas en el país (Piña, 2018, p. 6).
                La relación entre China y Venezuela en el contexto de préstamos e inversiones ha despertado un interés creciente por las implicaciones económicas, políticas y sociales que implica. La dependencia de Venezuela de los préstamos chinos, especialmente en el sector petrolero, plantea dudas sobre la sostenibilidad de la deuda venezolana y las consecuencias de esta relación asimétrica.
             En este contexto, resulta fundamental analizar la dinámica de los préstamos chinos a Venezuela, los métodos de pago adoptados y los impactos de estas transacciones financieras,Venezuela enfrenta una crisis económica y política sin precedentes, agravada por la caída de los precios del petróleo y la excesiva dependencia de los préstamos chinos. La cuestión de la capacidad de pago de la deuda y las condiciones asociadas a los préstamos plantean desafíos importantes para el país, generando preocupaciones sobre la soberanía financiera y la sostenibilidad económica a largo plazo.
             Con base en el análisis de la relación entre China y Venezuela en el contexto de lospréstamos, se plantea la hipótesis de que la dependencia de Venezuela de los préstamos chinos tiene impactos significativos en la economía venezolana y la política interna del país. Además, se sugiere que las formas de pago de los préstamos, incluido el uso del petróleo como garantía, influyen en la dinámica de las relaciones financieras entre los dos países.
                El objetivo general de este estudio es analizar la relación entre los préstamos chinos y Venezuela, investigando los métodos de pago adoptados, los impactos económicos y políticos de estas transacciones y las perspectivas de futuro de esta relación bilateral.
                    Para lograr el objetivo propuesto se realizará una revisión exhaustiva de la literatura sobre la relación China-Venezuela en el contexto de préstamos e inversiones. Se analizarán documentos oficiales, informes especializados y artículos académicos para comprender la dinámica de los préstamos chinos a Venezuela.
Contexto Histórico
                   La cooperación del Sur-Sur ha desafiado el sistema político-económico global dominado por el Norte desde la Conferencia de Bandung en 1955. Con los recientes avances económicos y diplomáticos de los países emergentes, especialmente China, existe un consenso creciente sobre la importancia de poner esta cooperación en primer plano del escenario mundial. La cooperación chino-venezolana emerge como un modelo innovador que se adapta a las realidades de los países en desarrollo, dado que China es el mayor importador de petróleo del mundo y Venezuela tiene un potencial significativo como proveedor, esta asociación bilateral es altamente complementaria.
                 El enigmático desarrollo de China en el último cuarto del siglo XX y su ascensión como actor económico global en el XXI, se ha convertido en tema obligado de los foros de discusión política y económica a escala global; más aún, cuando el gigante asiático ha implementado de forma exitosa una mezcla de desarrollo económico y social sin alterar la esencia de su sistema político; lo que ellos han dado en llamar “Un país, dos sistemas” (Den Xiaoping, 1984). Ahora, cuando Venezuela atraviesa uno de los momentos más difíciles de su historia republicana, es precisamente el nombre de China el que sale a relucir en dicha coyuntura.
                   Desde la culminación del siglo XX y con la llegada del fenómeno político bautizado como la Quinta República, las vinculaciones entre el país suramericano y el coloso asiático se han profundizado a niveles sin precedentes, desafiando por lo menos de momento, a quien fuera desde hace más de un siglo,el actor con mayor influencia en la vida venezolana, los Estados Unidos de América.
                    La relevancia de Venezuela en términos geopolíticos se debe a su ubicación estratégica, sus vastas reservas de petróleo y sus relaciones internacionales. Según Sandner (1982), Venezuela e encuentra en una posición geográfica clave en América del Sur, con acceso al Océano Atlántico y al Mar Caribe, lo que la convierte en un punto crucial para el comercio marítimointernacional y el tráfico energético (Quiroz Encinas,2023, p.4).
                Además, Venezuela es considerada un importante proveedor de energía, especialmente paraEstados Unidos, debido a sus extensas reservas petroleras. Esto le otorga una posición de poder en las negociaciones a nivel internacional y la ha convertido en un actor relevante en el escenario mundial (Guía, 2010). Las alianzas y acuerdos de cooperación energética que Venezuela ha establecido con diversos países, tanto en América Latina y el Caribe como en Asia y Europa, han contribuido a su influencia geopolítica y a su capacidad para diversificar sus relaciones internacionales (Quiroz Encinas,2023,p.19),como resaltan (Brandt & Pina) venezuela y china establecen relaciones diplomática en los años 90, para ese momento con la guerra fría como telón de fondo, hubo dos acontecimientos que influenciaron en las relaciones entre el mundo especializados y los países exportadores de materias prima.(Brandet & Piña, 2018, p. 3).
                  El embargo petrolero de 1973 y la creación de la agencia internacional de energía al año siguiente, en ese contexto venezuela había entrado en la OPEP en 1960 y impulsionar el diálogo Norte-Sur y busco la diversificación de sus relaciones económica y políticas , buscando construir espacios coordinación, concertación y negociación (Elza Cardozo,2005). Cabe destacar que en los años 50 venía desplegando una activa “diplomacia petrolera”, destacando sus representaciones a personal especializado, tanto en países consumidores como productores (Delia Picon,1999).
                      Por su vez, china comenzaba a salir del aislamiento ejerciendo una política exterior pragmática, basada en el interés internacionalizarse y evitar episodio de hostilidad con la URSS, razon que permitio normalizar sus relaciones com USA, lograndolo en 1972, previamente había ingresado en la ONU y fomentando el acercamiento hacia américa latina. Como resalta Brandt & Piña (2018). En 1974, el intercambio comercial entre ambos países fue de US$ 1,4 millones incrementándose de forma sostenida hasta 1999 cuando promedió los US$ 400 millones cuando se suscribieron 36 instrumentos de cooperación en los sectores petrolero, científico, manufacturado, comercial , agrícola , ganadero y pesca, con el establecimiento en venezuela de 11 empresas de capital chino (MPPRE,2013). En el ámbito petrolero , según datos oficiales venezolanos, solo en 1946 Venezuela exportó a China unos 29.000 barriles al año de productos refinados.
              
   El plan estratégico de relaciones diplomáticas del gobierno chávez

                Con la llegada a la presidencia de Hugo Chavez en 1999, las relaciones bilaterales recibieron un impulso sin precedentes como cambios en la política exterior del presidente Chavez influenciados por determinantes ideológicos y geopolíticos.

           Conforme mencionado por (Brandt & Piña,2018,p.4).Desde 2001, una serie de encuentros bilaterales desembocaron en el diseño del “ Plan estratégico energético China-Venezuela 2001-2011” y la concreción de la “Comisión Mixta de alto nivel”, máxima autoridad de esta relación (Brandt & Pina,2018,p.5). Esto evidenció un cambio estratégico conceptual, de diseño y de ejercicio de la nueva política exterior venezolana, teniendo como sustentos formales: 1) Las Líneas Generales del Plan de Desarrollo Económico y Social de la Nación 2001-2007 y posteriormente, 2) El Proyecto Nacional Simón Bolívar. 2007-2013. (Carlos Brandt, 2016). En 2007 se materializó el fondo de financiamiento Conjunto Chino Venezolano (FFCCV) y luego, el Fondo de Gran Volumen a Largo Plazo (FGVLP).

           Conforme mencionado por (Brandt & Piña,2018). Desde entonces la cooperación se fue estrechando, abarcando diferentes ámbitos; el económico, en sus aristas petrolera, financiera y comercial, así como el sector defensa, infraestructura, minería y tecnología; En 2014 en la Asociación Estratégica Integralque china le otorgaría su relación con Venezuela. De manera específica, la creación del (FFCCV) y posteriormente del (FGVLP) se tradujo en el otorgamiento de créditos por hasta US$ 50.300 millones, monto que se incrementa hasta los US$ 67.499 millones con los desembolsos dirigidos a los sectores petrolero, minería y construcción (Diálogo Interamericano, 2019).
Balanza Comercial Entre China y Venezuela Durante El periodo 2000-2018

          De acuerdo con los datos publicados por la Solución Comercial Integrada Mundial del Banco Mundial, el intercambio comercial acumulado entre China y Venezuela como apunta (Brandt & Piña,2018). ha alcanzado los US$ 150.64 millones entre 2000 y 2017. de esta cantidad, US$ 96.468 millones le corresponden a exportaciones realizadas desde Venezuela hacia china y lo restante US$ 54.226 millones a ventas de este país a su contraparte venezolana, por esta razón es posible afirmar que la balanza comercial ha sido favorable al país suramericano (World Integrated Trade Solution 2019).

          Al momento de realizar este documento no fue posible hallar datos relativos al comercio entreambas naciones correspondientes al año 2018. El gráfico 1 muestra la evolución de la balanza comercial, pudiéndose observar las diferentes etapas por las que ha transitado. A saber: la primera de 2000 y 2007, de bajo dinamismo; otra de fuerte dinamismo entre 2008 y 2014; luego un período de declive entre 2015 y 2016; finalmente un leve repunte en el año 2017. Al momento de realizar este documento no fue posible hallar datos relativos al comercio entre ambas naciones correspondientes al año 2018. (Brandt & Piña,2018,p.6)
                
                  Es importante resaltar que sólo cinco productos representaron el 99,5% de las exportaciones venezolanas con destino a China; estos fueron: petróleo y sus derivados (90,9%); minerales metalíferos, escorias y cenizas (6,09%); materiales de fundición, hierro y acero (1,87%); productos y compuestos químicos inorgánicos (0,24%) y; manufacturas de cobre (0,24%).

                   Entretanto, las importaciones venezolanas mostraron una tendencia un poco más variada y se enfocaron en la compra de bienes de alto valor agregado, tales como: maquinaria pesada e industrial (23,1%); aparatos electrónicos (17,7%); vehículos automóviles y tractores (11,9%); productos manufacturados de hierro y acero (6,3%) y materiales de fundición, hierro y acero (2,1%) (WITS, 2019). (Brandt & Piña,2018,p.6).

Inversiones directas de instituciones Chinas para Venezuela

                  Las inversiones directas (OFDI) desde China hacia Venezuela alcanzaron US$ 6.086 millones entre 2000 y 2018. Este monto representa 5,2% del total de la inversión realizada por empresas chinas en ALC y ubica a Venezuela como el sexto país de la región que mayor entrada de recursos ha recibido por este concepto en los últimos 18 años (Monitor OFDI). En el gráfico 2 podemos ver como comienzan las inversiones directas de China a Venezuela con variaciones con un inicio en 2003 con una leve inversión y con um maoy volumen entre 2007 y 20016.
   
                           Como resalta Brandt & Piña (2018). Los desembolsos por parte de empresas chinas comprendieron veintidós transacciones, de las cuales dieciocho pertenecen a proyectos nuevos y cuatro a fusiones y/o adquisiciones (F&A ́s). En el primer caso, la mayoría se desarrollaron bajo un esquema que comprendía la creación de empresas mixtas chino-venezolanas. Estas inversiones han podido ayudar a construir nuevas actividades económicas en sectores como el sector petrolero, telecomunicaciones, automotriz, transporte, y fabricación de electrodomésticos. Por otro lado las F&A ́s abarcaron la compra de acciones de empresas ya operativas en la industria petrolera, así como de fábricas de automóviles y de equipos electrónicos manejadas por compañías privadas (Piña, 2019b).

                              Las OFDI China en territorio venezolano se ha concentrado mayormente en el sector de materias primas (60,8%), seguido del sector de servicios (29%) y, finalmente, en el sector manufacturero (10,2%) el gráfico 3 muestra la distribución de las inversiones directas de china a venezuela como señala Brandt & Piña(2018) La generación de empleo es otro de los aspectos a destacar
cuando se analiza la inversión directa china. Al respecto, es posible afirmar que han sido creados un aproximado de 14.601 puestos de trabajo, distribuidos de la siguiente forma: sector manufacturas con 11.794 (80,8%); sector servicios con 2.169 (14,8%); y sector materias primas con 633 (4,3%). También podemos decir que la mayor partes de la inversiones directas de China hacia Venezuela en varios sectores como apunta Brandt & Piña(2018).Las OFDI china en este país se ha concentrado en el sector materias primas, han sido las inversiones en fábricas de las marcas Haier, ZTE, Huawei, Yutong, así como también las plantas de ensamblaje de la empresa Chery, las que mayor impacto han tenido en el
mercado laboral venezolano (Piña 2019; Monitor OFDI 2019).

                        Algunas de las principales inversiones directas de instituciones chinas en Venezuela en el sector petrolero incluyen, Corporación Nacional de Petróleo de China (CNPC), con la adquisición del 9,9% de las acciones de la sociedad mixta Petrosinovensa: 1580 millones de dólares en septiembre de 2018. Inversión en instalaciones para mejoramiento petrolero en la empresa mixta Petrourica 549 millones de dólares en noviembre de 2016. Inversión en plantade Orimulsión: 480 millones de dólares en septiembre de 2003. Compañía Internacional de Fideicomisos e Inversiones de China (CITIC) con la adquisición del 10% de las acciones de la sociedad mixta Petropiar: 944 millones de dólares en febrero de 2012.

Préstamos y Políticas de financiamiento 

                     Entre 2000 y 2018, los créditos aprobados por instituciones chinas a Venezuela como señala Brandt & Piña(2018). Alcanzan los US$67.499 millones cifra que representa 47,8% del total de las préstamos de instituciones China en América Latina.Analistas como Matt Ferchen, sostienen que este monto es el mayor aporte crediticio hecho por China a país alguno en el escenario global, superando sus aportes particulares a naciones asiáticas, africanas y europeas (Ministerio de Relaciones Exteriores, 2010; Ferchen, 2018; Diálogo Interamericano, 2019).

                 Los primeros préstamos realizados se ubican entre los años 2000 y 2007, período en el que se
realizaron cuatro operaciones de financiamiento cuyo monto acumulado fue de US$ 58 millones y Renminbi 434 millones, destinados al desarrollo de actividades agrícolas e infraestructura (MRE 2010; CITIC 2018).
             
                   Una segunda etapa de créditos entre los años 2007 y 2015, cuando se firman varios fondos de financiamiento como destaca Brandt & Piña(2018). Fondo de Financiamiento Conjunto Chino Venezolano (FFCCV) y el Fondo de Gran Volumen a Largo Plazo (FGVLP), a través de los cuales se integran a la economía venezolana recursos por el orden de US$ 50.300 millones (Diálogo Interamericano 2019).

                      En este sentido, la característica más relevante de estos instrumentos de deuda ha sido el establecimiento de mecanismos legales y financieros en los que las partes acuerdan el desembolso y pago de los mismos. En efecto, el modelo adoptado parece un esquema en el que el BDC presta dinero por adelantado a Venezuela, a través de Bandes que actúa como intermediario en la relación, y posteriormente, la nación sudamericana efectúa los pagos mediante el envío de petróleo a través de PDVSA.

                        Es posible identificar un periodo entre los años 2012 y 2018 como resalta Brandt & Piña(2018). Las autoridades chinas han centrado su interés en financiar –vía créditos– actividades en el sector petrolero venezolano, específicamente a empresas mixtas ubicadas en bloques de la FPO, donde empresas chinas participan en calidad de “Socio B” junto a PDVSA (Socio A). El monto de estos préstamos alcanza los US$ 11.950 millones, distribuidos en cinco operaciones de financiamiento por el orden de US$ 500, 4.000, 2.200, 250 y 5.000 millones, respectivamente. El pago de estos compromisos corresponden directamente a PDVSA, quien en su calidad de prestatario puede decidir cancelarlos con envíos de petróleo, dinero en efectivo o cualquier otro mecanismo previamente establecido entre las partes (Piña, 2019; Informes Financieros y de Gestión de PDVSA, 2013, 2014, 2015 y 2016).

                               Entre los años 2009 y 2013 fueron realizados varios préstamos , los cuales no fueron aprobados como parte del esquema del FFCCV y el FGVLP, ni estuvieron vinculados con el financiamiento dirigido a las empresas mixtas en la FPO. En líneas generales, estos créditos, cuyo valor acumulado se ubicó en los US$5.149 millones, sirvieron para atender compromisos financieros de PDVSA tanto a nivel nacional como en el extranjero con flujo de caja, así como para cubrir el desarrollo de actividades relacionadas con el sector minero.(Brandt & Piña,2018,p.9)

Fondos de financiamiento

                          Los fondos de Financiamiento Conjunto Chino-Venezolano (FFCCV) y el Fondo de Gran Volumen a Largo Plazo (FGVLP) son mecanismos de financiamiento establecidos entre China y Venezuela para apoyar diversos proyectos de infraestructura, desarrollo económico y energético en Venezuela Estos fondos fueron creados a partir de acuerdos de préstamos por petróleo firmados en 2007,con el propósito de estrechar alianzas en materia económica y financiera a cambio del suministro de crudo desde Venezuela hacia China. La composición de los fondos de financiamiento se fundamenta en aportes del Banco de Desarrollo de China (BDC) y del Fondo de Desarrollo Nacional (FONDEN), considerando el reembolso de dichos aportes de corto y largo plazo para realizar las renovaciones.

                          Además, cabe destacar que estos financiamientos han sido diseñados por la CMAN como fondos rotatorios, debido a su carácter reembolsable y renovable hasta dos veces de cada uno de los tramos, una vez sean cancelados en su totalidad. En lo que respecta a las condiciones financieras a través de las cuales se otorgaron, es preciso resaltar que los mismos variaron entre la tasa LIBOR trimestrales (corto plazo) y semestrales (largo plazo), y la tasa SHIBOR en el caso de la parte del FGVLP establecida en Renminbi (RMB) más un margen que oscila entre 50 y 300 puntos básicos aproximadamente (Medium 2017).

                           Como señala Brandt & Piña (2018). El pago de estos préstamos se ha realizado a través de envíos de petróleo de PDVSA a CNPC, según lo estipulado en la adopción de los acuerdos de creación de los fondos de financiamiento. En tal sentido, la aproximación más cercana sobre la amortización de los mismos es posible conseguirla en los Informes de Gestión de PDVSA entre los años 2008 y 2016. En dichos documentos, se establece que hasta 2016, para el repago de los financiamientos de corto plazo, que incluye los tramos A, B y C –A y B con sus respectivas segundas renovaciones–, fue enviada la cantidad aproximada de 712 millones de barriles, para un promedio de 198 Mb/d. Mientras, en el repago del FGVLP, en sus tramos I y II, se han utilizado aproximadamente 634 millones de barriles, con un promedio de envíos de 176 Mb/d (MRE, 2010; Informe de Gestión Anual de PDVSA, 2016).

Préstamos por petróleo dirigidos a la producción de petróleo

                             En 2012 el Banco de Desarrollo de China inició una política de financiamiento directa hacia el sector petrolero venezolano, destinada a atender compromisos de producción en la FPO,
previamente acordados entre PDVSA y CNPC. En total, esta estrategia se basó en la realización de cinco operaciones de financiamiento en los años 2012, 2013, 2016 y 2018, respectivamente, las cuales involucraron desembolsos acumulados por el orden de los US$ 11.950 millones; (IGA PDVSA 2016). El primer crédito que hizo el BDC a la empresa petrolera venezolana fue realizado en el año 2012 y tuvo como finalidad la compra de bienes y servicios petroleros. En el cuadro 2 se observa que este préstamo inicial contempló la transferencia de US$ 500 millones, los cuales ueron otorgados a una tasa LIBOR más 4,5% de margen, con amortizaciones trimestrales de capital e intereses, vencimiento a 6 años y un período de gracia de 30 meses. Según el Informe Financiero de PVDSA de 2016, la empresa venezolana había recibido para ese año un total de US$ 495 millones por concepto de dicho préstamo, manteniendo una deuda por pagar de US$ 318 millones hasta ese entonces (Informes Financieros de PDVSA, 2011 y 2016; (Dialogo Interamericano, 2019).

 Pagos

                   Los pagos asociados a los mecanismos de financiamiento del FFCCV y FGVLP se realizan a través del suministro de petróleo por parte de Venezuela a China. Según los datos proporcionados en el documento, se estima que el volumen total de suministro para amortizar los préstamos del Fondo Chino-Venezolano asciende a aproximadamente 1.346 millones de barriles, con un promedio de 374 mil barriles diarios por año .

                       En el período analizado, se detalla el volumen de suministro para amortización de los diferentes tramos de los préstamos, indicando los envíos de barriles diarios correspondientes a cada tramo. Por ejemplo, se mencionan los envíos para amortización de los tramos A, B, C, A-II, B-II, A-III, y B-III, entre otros . Además, se destaca que entre 2007 y 2018, los préstamos otorgados por China a Venezuela alcanzaron un valor de 62.841 millones de USD, distribuidos en 18 operaciones. De este monto, 57.250 millones corresponden a préstamos por petróleo, lo que representa el 66% de los acuerdos firmados y el 91% del monto total en millones de dólares. Estos préstamos por petróleo implican que parte de la producción petrolera venezolana esté comprometida como parte del pago

CONCLUSIONES

                                A análise da relação financeira entre a China e a Venezuela revela a complexidade e a importância desses laços para ambos os países. A questão do pagamento dos empréstimos concedidos pela China à Venezuela representa um desafio significativo, dada a magnitude da dívida acumulada e as dificuldades econômicas enfrentadas pelo país sul-americano.

                                É evidente que a capacidade da Venezuela de honrar seus compromissos financeiros com a China tem implicações diretas não apenas para sua estabilidade econômica interna, mas também para suas relações internacionais e para a dinâmica geopolítica regional. A transparência, a eficiência na gestão da dívida e a busca por soluções sustentáveis são fundamentais para garantir a continuidade e a estabilidade dessa parceria financeira.

                        Diante desse cenário, é essencial que a Venezuela adote medidas concretas para fortalecer sua capacidade de pagamento, promover reformas econômicas e buscar alternativas viáveis para gerir sua dívida externa. Além disso, a China também desempenha um papel crucial ao demonstrar flexibilidade e cooperação para encontrar soluções que beneficiem ambas as partes e contribuam para o desenvolvimento econômico e a estabilidade financeira da Venezuela.

                            La dependencia de Venezuela de los préstamos chinos, especialmente en el sector petrolero, ha generado importantes desafíos para la economía venezolana, planteando dudas sobre la sostenibilidad de la deuda y la soberanía financiera del país. Los métodos de pago de préstamos, incluido el uso de petróleo como garantía, reflejan la dinámica de las relaciones financieras entre China y Venezuela, influyendo en las políticas económicas y las perspectivas futuras de estos países.

                               Dada la complejidad de estos temas, es esencial que Venezuela busque diversificar sus fuentes de financiamiento y promover políticas económicas sostenibles para reducir su dependencia de los préstamos chinos. Además, es esencial que China y Venezuela trabajen juntos para asegurar la transparencia y sostenibilidad de las transacciones financieras, promoviendo una relación equilibrada y mutuamente beneficiosa.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRANDT, Carlos H.; PIÑA, (2018) Carlos Eduardo. Las relaciones Venezuela-China (2000-2018). Acceso en: 12-03-2024.

Ministerio de Relaciones Exteriores de Venezuela. (2010). Política de financiamiento de China en el sector petrolero venezolano (2000-2018). Cuadernos de Trabajo del CeChimex, 2019.

Piña, C. E. (2019). Inversiones y préstamos chinos en el sector petrolero venezolano (2000-2018). Cuadernos de Trabajo del CeChimex, 2019.

Ríos, X. (2009). China y Venezuela: Una amistad con reparos.

Quiroz Encinas, A. (s. f.). Venezuela: importancia geopolítica, geoestratégica y energética. Dirección de Inteligencia Energética-Subdirección de Investigación


Lorena Cabnal e Julieta Paredes: diálogos para um feminismo comunitário Maria Eugênia Ramos Ferreira O presente trabalho objetiva apresentar...